Em entrevista à agência Lusa, o coordenador do Bloco nos Açores declara que “20 anos é muito tempo, 24 é muitíssimo tempo e 28 anos, se o PS voltar a ganhar", nas regionais de 25 de outubro, "é ainda mais tempo e é um tempo que gera vícios, clientelismos e uma teia de influências que oprimem e sufocam a democracia, o que é extremamente negativo para o desenvolvimento de qualquer sociedade”.
Para António Lima, a renovação da maioria socialista seria “obviamente mais um passo na degradação da democracia, algo que se tem vindo a assistir nos Açores”, havendo que promover a mudança através das necessárias “transformações sociais e económicas para se ter uma região mais justa, com um desenvolvimento económico que chegue a mais pessoas, em que os níveis de pobreza desçam”, o que “não tem acontecido em 24 anos de poder socialista”.
“Continuamos com um risco de pobreza que é o mais alto do país (31,8%), quase um terço da população, algo que é absolutamente inacreditável no século XXI. O abandono escolar precoce é de 27%, ou seja, uma percentagem enorme de jovens que não termina a escolaridade obrigatória, o que significa que terão dificuldades no acesso ao emprego qualificado, com melhor salário”, declarou o cabeça de lista do BE/Açores por São Miguel e pelo círculo da compensação.
Questionado sobre por que razão os Açores, apesar de receberem dos maiores envelopes financeiros da União Europeia (UE), não conseguem convergir ao ritmo desejado com o PIB europeu e nacional, António Lima declara que “se não é bem utilizado, o dinheiro só serve alguns e não ajuda a sociedade no seu todo”.
“Os fundos da UE são essenciais para projetos estruturantes, para o investimento público, mas também há verbas que são utilizadas em áreas e investimentos que não têm a reprodução na economia que é necessária”, afirmou.
De acordo com António Lima, a aposta no turismo nos Açores “é importante, mas não vai mudar a economia”, sendo que este setor “baseia-se em mão de obra barata, muitas vezes precária, que gera pouco valor acrescentado”.
“Emprega muita gente, é verdade, mas não permite uma transformação económica, bastando ver as estatísticas do número de pessoas de quadros superiores e intermédios, quem têm vindo a descer na região, ao contrário de quadros de pessoal que trabalha nos serviços, pouca qualificada, que tem vindo a subir”, disse o candidato.
António Lima aponta que o BE defende “há muito tempo" que se deve apostar "no que há de melhor na região", como é caso do mar, "através da utilização do conhecimento adquirido pela Universidade dos Açores, pelo Departamento de Oceanografia e Pescas, para criar uma grande instituição de investigação para as ciências do mar”.
Este projeto “nunca foi levado a sério pelo PS/Açores e agora no plano de recuperação de António Costa e Silva surge o projeto de criação da Universidade do Atlântico”.
Uma das outras prioridades do BE/Açores no seu programa eleitoral é a saúde, defendendo o partido que a crise gerada pela pandemia da covid-19 “tem ser atacada, uma vez que se corre o risco de, devidos aos seus efeitos, haver um cenário gravíssimo no acesso ao sistema de saúde".
E prossegue: "Estando 13 mil açorianos em lista de espera cirúrgica, tem de haver um plano de recuperação”.
O BE/Açores propõe a criação de incentivos à fixação de médicos nos Açores com montantes que variam entre 400 e 500 euros mensais, o que significa um custo anual de cinco milhões de euros, segundo António Lima, podendo este montante ser “compensado pelo valor enorme que se gasta com horas extraordinárias dos hospitais na região, devido à falta de médicos”.
Ainda no sector da saúde, os bloquistas propõem a criação de um conselho de coordenação dos hospitais regionais, no qual tenham assento os presidentes dos conselhos de administração e diretores clínicos, por forma a que estes não funcionem de “costas voltadas”, a par de um plano de investimentos trianual, que deve ser aprovado pelo parlamento regional.
Antigo deputado municipal por Ponta Delgada, licenciado em Biologia e Geologia, António Lima é natural de São Miguel, tem 39 anos e é professor, sendo coordenador regional do BE/Açores desde julho de 2018.
É deputado na Assembleia Legislativa dos Açores e pertence à Mesa Nacional do BE.
O PS governa a região há 24 anos, tendo sido antecedido pelo PSD, que liderou o executivo regional entre 1976 e 1996.
Vasco Cordeiro, líder do PS/Açores e presidente do Governo Regional desde as legislativas regionais de 2012, após a saída de Carlos César, que esteve 16 anos no poder, apresenta-se de novo a votos para tentar um terceiro e último mandato como chefe do executivo.
As próximas eleições para o parlamento açoriano decorrem em 25 de outubro.
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