A conferência diária da Direção-Geral da Saúde, em conjunto com o ministério da Saúde, começou sob a sombra de um estudo antecipado no final do dia de ontem pela Lusa, publicado na revista científica Acta Médica, da Ordem dos Médicos, no qual é referido que o excesso de mortalidade em Portugal desde o início da pandemia de covid-19 pode chegar aos quatro mil óbitos.

Depois da atualização dos números, pelo secretário-geral da Saúde, António Lacerda Sales, a pergunta sobre estes números foi rematada e chutada para canto, pelo subdiretor-geral da DGS, Diogo Cruz, que, por não ter conhecimento da metodologia utilizada e afirmando que não teve ainda acesso ao artigo, se escusou a comentar a publicação, afirmando que "o óbito é um evento único, não existe possibilidade de ele ser duplicado" e remetendo para os dados oficiais disponíveis no site da Direção-Geral da Saúde que referem que entre um de janeiro e 25 de abril deste ano houve mais 307 óbitos quando comparado com a média dos 5 anos anteriores.

Apesar da dúvida ter persistido, Lacerda Sales sublinhou que se inicia "um processo de recuperação de confiança das pessoas no Serviço Nacional de Saúde [SNS] e temos apelado aos pais que não descurem a vacinação dos filhos e às pessoas com doenças crónicas que não deixem de procurar os cuidados médicos de que necessitam para manter as suas patologias controladas", disse António Lacerda Sales.

O secretário de Estado enumerou várias patologias, tendo-se dirigido em particular na conferência de imprensa diária de acompanhamento da pandemia em Portugal, "aos diabéticos, hipertensos, [pessoas com] doenças respiratórias, doentes oncológicos e [pessoas com] doenças cardiovasculares".

António Lacerda Sales recordou que "os primeiros casos covid-19 em Portugal foram identificados a 02 de março", frisando que "o SNS já se vinha a preparar para a pandemia", tendo "adaptado a sua resposta às diferentes fases epidemiológicas num processo flexível, dinâmico, proporcional e transversal".

"A criação de circuitos covid e não covid dentro das unidades de saúde foi determinante", referiu o secretário de Estado da Saúde, admitindo, no entanto, que a atividade paralela foi "afetada".

"Não podemos ignorar que toda a atividade assistencial foi afetada por esta pandemia. Sem ter a situação destabilizada no âmbito da propagação do novo coronavírus, não se consegue dar uma resposta adequada às outras patologias", referiu o governante.

Ocupação de camas de cuidados intensivos é de 54%

António Lacerda Sales indicou que há 334 pessoas internadas em unidades de cuidados intensivos e que existem 289 camas vagas. Dos internados, 172 (51,4 por cento) foram diagnosticados com covid-19.

“Parece-me que temos aqui um espaço de algum conforto, não só para acolhermos aquilo que é matéria covid neste momento, como prepararmos também toda a nossa atividade em cuidados intensivos em conjunto com a ‘task force’ que estuda este processo”, afirmou.

Em relação a um eventual aumento de casos a partir do fim do estado de emergência, que termina à meia-noite do dia 02 de maio, com o desconfinamento progressivo da população e o regresso à atividade, Lacerda Sales considerou que é “matéria de grande preocupação” mas que a taxa de ocupação atual dá espaço para preparar a “atividade pós-covid”.

Para isso, os serviços de saúde estão a contar com “250 intensivistas” e ainda pneumologistas, anestesistas e internistas que estão a trabalhar nos cuidados intensivos.

Desde o dia um de março, já foram feitos mais de 370 mil testes

"Desde o dia 01 de março foram realizados cerca de 370 mil testes covid-19 em Portugal. Na semana de 20 a 26 de abril foi feita uma média de 13.240 testes por dia, um incremento de mais de 1.000 testes em relação à semana anterior", referiu António Lacerda Sales.

O secretário de Estado da Saúde dedicou parte da sua intervenção inicial a números sobre testes e taxas, lembrando que os primeiros casos da doença covid-19 foram detetados em Portugal a 02 de março.

"Já antes estávamos a preparar-nos para a pandemia (...). E continuaremos empenhados neste caminho", disse António Lacerda Sales.

O governante especificou, ainda, que a taxa de letalidade global é de 3,9%, enquanto a taxa de letalidade acima dos 70 anos é de 13,9%.

Já no que diz respeito a pessoas em tratamento domiciliário, este valor corresponde a 86,5%, enquanto em internamento é de 3,8%, sendo 0,7% em unidade de cuidados intensivos 3,1% em enfermaria.

Quase 50 empresas adaptaram-se e estão a fornecer materiais de proteção

"Já temos quase 50 empresas nacionais que adaptaram a sua produção e já com validação do Infarmed estão a produzir equipamentos de proteção individual que já estão a chegar aos nossos profissionais de saúde", disse o secretário de Estado da Saúde

De acordo com o governante, estas empresas "estão em fases diferentes de produção", estando "muitas das quais a fornecer serviços partilhados do Ministério da Saúde".

Em causa estão, enumerou António Lacerda Sales, materiais como máscaras cirúrgicas, máscaras sociais, batas, cobre botas, fatos, em produtos de uso único ou reutilizável.

"Esperamos ter ainda mais empresas e que a resposta no mercado interno às necessidades seja cada vez maior", apelou o secretário de Estado da Saúde.

Portugal regista hoje 948 mortos associados à covid-19, mais 20 do que na segunda-feira, e 24.322 infetados (mais 295), indica o boletim epidemiológico divulgado hoje pela Direção-Geral da Saúde (DGS).

Comparando com os dados de segunda-feira, em que se registavam 928 mortos, hoje constatou-se um aumento de óbitos de 2,2%.

Relativamente ao número de casos confirmados de infeção pelo novo coronavírus (24.322), os dados da DGS revelam que há mais 295 casos do que na segunda-feira, representando uma subida de 1,2%.

A nível global, segundo um balanço da agência de notícias AFP, a pandemia de covid-19 já provocou mais de 211 mil mortos e infetou mais de três milhões de pessoas em 193 países e territórios.

Mais de 832 mil doentes foram considerados curados.

A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro, em Wuhan, uma cidade do centro da China.