A empresa PRIO, que diz ser um dos três maiores produtores europeus de biodiesel, produz por ano 50 milhões de litros de biodiesel com base em óleo alimentar usado (OAU), pelo que tem de comprar no estrangeiro muitos milhões de litros do resíduo, embora os portugueses despejem nos esgotos também milhões de litros, que acabam por contaminar as águas.
Na semana passada a associação ambientalista Zero já tinha alertado para a reduzida reciclagem de OAU, avançando que são despejadas nos esgotos 35 mil toneladas por ano.
Nas contas da associação, com base em dados da Agência Portuguesa do Ambiente (APA), são colocadas no mercado, em cada ano, 77 mil toneladas de óleos, pelo que deviam ser recicladas 58 mil toneladas (descontando as perdas), mas são reutilizadas apenas 23 mil toneladas.
Os cidadãos despejam nos esgotos 15.000 toneladas e o setor da hotelaria e restauração outras 19.000 toneladas. Segundo a Zero a taxa de recolha no setor doméstico é de 1,6% e na restauração de 46% (e neste caso a entrega de óleos é obrigatória).
A Quercus, outra associação ambientalista, alerta para o “elevado potencial de contaminação dos recursos hídricos” dos OAU afirmando na sua página na internet que “um litro de óleo é suficiente para poluir cerca de um milhão de litros de água”, e que o óleo nos esgotos potencia o aparecimento de pragas e danifica as estações de tratamento.
Mil litros de OAU dão quase outros tantos litros de biodiesel, que produz menos dióxido de carbono. E depois, ainda segundo a Quercus, cada tonelada de OAU que não vai para aterro sanitário e sim para reciclagem evita 14 toneladas de gases com efeito de estufa.
Nuno Correia, administrador da PRIO (empresa de distribuição e comercialização de combustíveis líquidos) e responsável pelo projeto PRIO TOP LEVEL, de reciclagem de OAU, disse à Lusa que a empresa deve produzir este ano entre 60 a 70 milhões de litros de biodiesel com base nos óleos alimentares, acrescentando que se a matéria-prima fosse aproveitada Portugal podia produzir mais e mesmo exportar esse biodiesel.
“Gostaríamos que houvesse mais preocupação, a nível nacional, com este resíduo. O OAU permite que Portugal seja mais autónomo na produção de biocombustíveis”, disse o responsável à Lusa, apelando para o empenho de autarquias e populares.
Não se querendo substituir às autarquias, a PRIO TOP LEVEL quer ser até 2020 o maior coletor de OAU de Portugal, com um investimento de três milhões de euros, colocando no país mais de 800 postos de recolha de OAU (este ano ultrapassará a centena) e recebendo quase um terço do óleo alimentar vendido em Portugal. Só este ano conta distribuir entre 20 a 40 mil garrafas para reciclagem de óleos.
“Queremos dar às pessoas a possibilidade de terem o seu próprio ‘oleão’ em casa”, diz Nuno Correia, que acredita que com ações de sensibilização, pouco a pouco, autarquias e cidadãos vão começar a reciclar mais OAU.
E se a empresa, que podia transformar por mês sete milhões de litros de OAU, apenas recebe 500 mil litros não é só por falta de sensibilização dos cidadãos mas também por falta de pontos de recolha. “Espero que em alguns anos tenhamos tantos oleões como ecopontos”, disse.
Não é o que se passa atualmente e Nuno Correia fala mesmo em “descalabro”. E diz que países como a Alemanha, a Áustria, a Bélgica ou a Holanda têm um sistema de recolha eficiente, ao contrário dos portugueses, que despejam na sanita e no lava-loiça quase dois mil litros de OAU por hora.
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