Mais de uma semana após o sismo que afetou o sudeste da Turquia, a equipa portuguesa salvou um ‘golden retriever’ de uma cave colapsada na zona sul de Antáquia, uma das cidades mais afetadas pelo terramoto.
Visivelmente magro, com costelas salientes, o cão adulto, de pêlo dourado, tinha também o focinho e as patas com algumas feridas, sinal de que teria “tentado esgravatar a parede e encontrar uma saída”, disse à agência Lusa o coordenador da equipa cinotécnica da GNR que está na Turquia, André Rosa.
“Só tinha espaço para estar deitado, ali dentro”, notou.
André Rosa explicou que os cães “aguentam muito mais tempo do que os humanos sem comida”, mas, mesmo assim, “é muito tempo sem acesso a água para um cão”.
Tudo começou como um acaso.
No caminho para uma casa onde se acreditava estar um cadáver que a equipa portuguesa ia tentar recuperar, a militar da GNR Filipa Mendes decidiu dar um brinquedo a uma das cadelas da equipa, Kejsi, depois de esta ter estado de volta de uns escombros.
Kejsi, de sete anos e já com história de operações de resgate, ladrou para Filipa e um cão respondeu de volta.
A equipa tentou perceber de onde vinha o ladrar do cão. Inicialmente, procuraram no primeiro andar da casa danificada pelo sismo, mas rapidamente perceberam que o animal estaria preso na cave, abatida e compactada pelos danos estruturais no edifício.
“Acho que é tijolo. Deve dar”, disse um operacional, que começou logo de seguida a partir a parede, com recurso a um ‘hooligan’ (ferramenta que permite perfurar a parede), no local onde achavam que estaria o cão.
Com calma, começou a abrir-se um buraco e logo o animal apareceu.
Junto ao buraco, a equipa deixou um pouco de comida e foram-no chamando: “Anda! Anda!”, encorajaram.
Passados uns segundos, o cão lá venceu o medo e saiu pelas suas próprias patas do buraco.
Toda a equipa bateu palmas e o cão, por momentos, ignorou a água e comida deixada e correu, meio confuso, pelas imediações do edifício.
Regressou à casa, onde foi direito a uma poça de água, para beber.
Depois de algumas festas, lá veio o batismo: “Tuga” foi o nome dado pela equipa ao cão salvo dos escombros.
Logo depois da água, das festas e de ‘posar’ para algumas fotografias, surgiram outros ‘apetites’ ao “Tuga”, que se dirigiu a Kejsi, que não achou piada aos avanços.
Sem habitantes locais por perto, a equipa deixou “Tuga” com uma trela junto à casa, com acesso a comida e água, até o dono chegar, o que aconteceu passada uma hora.
Afinal, “Tuga” chama-se “Tarçin” (canela, em turco), contou à Lusa Taner, que agradeceu à equipa portuguesa pelo resgate.
“Salvar um cão é incrível, ainda para mais para nós, que são os nossos companheiros. Dá um gosto especial”, disse à Lusa André Rosa.
Para Filipe Melo, dos Sapadores de Lisboa, também no terreno, “são estes episódios” que vão dando ânimo à equipa portuguesa que está na Turquia.
“Tenho de pôr a Kejsi a ladrar mais vezes”, comentou a militar Filipa Mendes.
O sismo de magnitude 7,8 e réplicas que abalaram a Síria e a Turquia em 06 de fevereiro mataram mais de 35.000 pessoas, incluindo mais de 3.600 na Síria.
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