“É com preocupação que verificamos que há uma ausência de reflexão mais aprofundada sobre as reformas estruturais que o país precisa de fazer”, afirmou Inês de Sousa Real em declarações à agência Lusa no âmbito do debate sobre o Estado da Nação, que decorre na quarta-feira na Assembleia da República.

A deputada única do PAN sublinhou que esperava “mais arrojo, mais capacidade de decisão e de ação” da parte do Governo em áreas “como o acesso à habitação”, o emprego, a crise climática, ou a “crise socioeconómica provocada pela pandemia e que deixou o Serviço Nacional de Saúde (SNS) numa situação muito difícil”.

“Sabemos que vivemos tempos muito complexos com a guerra na Ucrânia (…), mas sabemos que isto não exime os Estados-membros [da União Europeia], em particular Portugal, das suas responsabilidades quer sociais, quer económicas, mas acima de tudo na transição que tem que existir do ponto de vista energético e na proteção das populações e da natureza”, vincou.

Inês de Sousa Real destacou a habitação, o clima, o combate à precariedade, a saúde, a violência doméstica, a proteção animal e a execução dos fundos comunitários como alguns dos temas que devem ser prioritários e que geram atualmente maior preocupação.

“Há vários desafios estratégicos que temos por alcançar, mas o debate continua por não ser feito, as opções continuam a ser tomadas apenas entre PS e PSD, deixando à margem todos os restantes partidos e (…), ou somos de facto todos ouvidos, ou dificilmente vamos conseguir encontrar os consensos necessários”, sublinhou.

Inês de Sousa Real apelou assim a que “o exercício que foi feito no Orçamento do Estado” para 2022 – em que o PAN conseguiu incluir 35 propostas – seja “feito ao longo de todo ano e não apenas em determinados momentos, quando o Governo quase que procura estar a passar a responsabilidade para outras forças políticas”.

Também em declarações à agência Lusa no âmbito do debate sobre o Estado da Nação, o deputado único do Livre, Rui Tavares, considerou que “Portugal tem uma década para se reinventar”, criticando também a falta de visão e de “sentido de urgência” da classe política portuguesa.

Rui Tavares relembrou que foi recentemente dado à Ucrânia “o estatuto formal de candidato à União Europeia”, o que “torna bastante provável que haja um alargamento na próxima década”.

“Com a entrada desses países na União Europeia (UE), nós teremos a maior convergência com a média da UE talvez de sempre. (…) Em termos de fundos europeus, isso poderá significar que passamos a dizer ‘estes são provavelmente os últimos fundos europeus’, para ter a certeza de que serão mesmo, nesta dimensão, os últimos”, sublinhou.

Rui Tavares defendeu assim “Portugal tem uma década para se reinventar”, sendo esta “muito provavelmente a última oportunidade” que o país tem para “dar o pulo” e ser “uma economia e uma sociedade e vanguarda na UE”.

“A pergunta que se devolve é se esse sentido de urgência se sente nos nossos maiores partidos, se sente no Governo do nosso país, se sente nos órgãos de soberania? Francamente, acho que é evidente que não se sente”, criticou Rui Tavares.

Para o deputado do Livre, “parece que a política portuguesa, nomeadamente ao nível dos grandes partidos e das elites, anda perdida nos seus casos e casinhos de todos os dias, sem nenhuma visão” de médio ou longo prazo.

Rui Tavares realçou que o Livre gostaria de ver essa urgência para “garantir que a economia portuguesa passa a ser uma economia do conhecimento e da descarbonização, com alto valor acrescentado, que permita subir salários” e que “marque a agenda numa série de domínios”, como “na preservação dos ecossistemas” ou “nas políticas públicas de qualidade”.