As mulheres e mães de alguns dos 300.000 homens russos que foram recrutados em setembro de 2022, num período crítico para o Kremlin, quando este precisava de reforçar o número de tropas depois de a Ucrânia ter recapturado vastas áreas de território no sul e no norte do país, juntaram-se e deixaram uma mensagem ao presidente russo.

"Queremos uma desmobilização total. Os civis não devem participar nos combates", diz uma das mulheres no início do discurso de nove minutos, divulgado este mês de dezembro. "Somos muitas e o nosso número só vai aumentar", cita o The Guardian.

"Porque é que os nossos homens, que levaram uma vida pacífica, têm de ir para a Ucrânia?", questiona a mesma mulher, Maria Andreeva, de 34 anos, uma das líderes não oficiais de um movimento popular que surgiu em setembro e tem vindo a ganhar força na Rússia nas últimas semanas.

"Se o nosso governo decidisse atacar um país mais pequeno, deixava o exército lutar, mas deixava os nossos homens em paz", completa.

De recordar que a Rússia tem um historial de protestos liderados por mulheres em tempo de guerra. As mulheres e as mães lideraram um movimento anti-guerra durante a primeira guerra da Chechénia, em 1994, que ajudou a virar a opinião pública contra o conflito e desempenhou um papel importante na decisão do Kremlin de pôr termo aos combates.

As mulheres estavam organizadas em grupos bem geridos, como o Comité das Mães dos Soldados da Rússia (CSM), que tinha centenas de núcleos regionais em todo o país, e a sua mensagem foi transmitida na televisão russa, numa altura em que os meios de comunicação social não estavam totalmente subordinados ao Estado.

Contudo, desde que Putin assumiu o poder em 1999, as autoridades russas têm tomado medidas sistemáticas para desmantelar os movimentos de base, ao mesmo tempo que se apoderam dos meios de comunicação independentes que lhes poderiam dar uma plataforma.

Agora, Andreeva comunica com outras esposas, irmãs e mães de soldados no Telegram, uma das últimas plataformas que acolhe vozes independentes. A maior parte do seu trabalho é coordenado no canal Put Domoy (O Caminho para Casa), que acumulou mais de 35.000 membros desde que foi fundado em setembro.

"O canal é onde nos juntamos e discutimos os nossos próximos passos", diz Natalia, uma enfermeira de uma pequena cidade perto de Saratov, no sul da Rússia. "Percebemos que há muitos mais de nós que querem que esta guerra acabe".

Andreeva está determinada a continuar os seus protestos, mesmo que estes a levem para a prisão. "Estamos cansadas de ser boas raparigas. Isso não nos leva a lado nenhum".