Diário de quarentena, por Patrícia Reis. Dia 5
Acordo sobressaltada, é o toque de uma ambulância nos meus sonhos, porque está tudo silencioso, muito silencioso. Sei que tenho muitas coisas para fazer, textos para escrever, textos para editar, páginas da revista Cristina para verificar se está tudo certo, título, entrada, texto, destaque de texto, e por aí fora. Editar é uma das grandes alegrias da minha vida e é maravilhoso editar duas publicações tão distintas quanto a Cristina e a Egoísta. Não tem nada a ver? Sim e não. Preparo-me então para a tarefa e decido que o meu posto de comando de trabalho para hoje de manhã será o sofá da sala. Convém mudar de paisagem e o sofá é confortável. Estou nesta fase de preparação quando a minha mãe me envia isto: Como ocupar o tempo durante a quarentena. Ditados portugueses para resolver:
Bom, não resisto à brincadeira e percebo logo que a cavalo dado não se arreganha o dente. Decido que é um bom jogo para fazer a seguir ao jantar e, de forma pragmática, rezo para dentro: trabalha, trabalha, trabalha. O teletrabalho depende da concentração e da vontade e vontade é algo que não me falta, o pior é a concentração porque sou bombardeada por vídeos e mensagens de teor variado e, muitas vezes, confesso, fico perplexa com o conteúdo.
Tomo a decisão de ouvir e ler apenas as informações que venham da autoridade, da direcção geral de saúde, do governo. Não sei filtrar informação, não sei que dimensão de verdade contém cada mensagem, acredito que este bombardear de informação só contribui para o pânico e não me adianta ter mais medo do que aquele que já tenho. Portanto, volto ao trabalho. Vou estar aqui em frente ao computador o dia todo. A minha equipa manda emails, falamos ao telefone, trocamos mensagens e sinto-me feliz por saber que trabalho com pessoas que são responsáveis. Estamos juntos, todos os casa, mas juntos. Como diz a minha mãe, somos animais de hábitos, por isso, sei que a cada dia que passa isto tornar-se-á mais fácil. Será?
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