O tiroteio chocou todo o país e, especialmente, o sul da Flórida, onde foram necessários quase três meses para selecionar 12 jurados - sete homens e cinco mulheres - considerados imparciais o suficiente para decidir o destino do autor confesso do massacre.

Em 14 de fevereiro de 2018, Cruz semeou pânico em Parkland, uma pequena cidade ao norte de Miami, ao entrar na escola secundária Marjory Stoneman, de onde havia sido expulso um ano antes, com uma arma semiautomática AR-15.

Em poucos minutos, matou 14 estudantes e três adultos e causou 17 feridos.

Em outubro, Cruz declarou-se culpado de todos os 17 assassinatos cometidos naquele dia, bem como de 17 tentativas, uma para cada ferido.

De acordo com a lei da Flórida, se um único jurado rejeitar a pena de morte, a sentença do jovem será de prisão perpétua sem liberdade condicional.

O processo, que pode levar vários meses, é incomum para os Estados Unidos, onde é raro que os autores de tais massacres sobrevivam ao ataque.

E certamente concentrará atenções num país abalado por uma série de tiroteios sangrentos como o de uma escola em Uvalde, Texas, onde 19 crianças e dois adultos morreram em maio deste ano; ou o de um supermercado em Buffalo (Nova Iorque), em que morreram 10 pessoas; ou o que deixou sete mortos durante um desfile de 4 de julho em Highland Park (Illinois).

As audiências deverão ser comoventes, com depoimentos de familiares e sobreviventes, bem como a divulgação de vídeos gravados por testemunhas da tragédia.

"Sinto muito pelo que fiz e tenho que viver com isso todos os dias", disse Cruz em outubro, depois de se declarar culpado.

A acusação, por sua vez, deverá concentrar-se na natureza premeditada dos assassinatos, com base num vídeo que Cruz gravou antes do massacre.

"Vou ser o próximo atirador numa escola, em 2018", disse na gravação. "Não sou ninguém, a minha vida não é nada e não tem sentido", acrescentou.

Apesar de seu histórico psiquiátrico e avisos de várias pessoas próximas sobre a sua perigosidade, Cruz conseguiu comprar legalmente uma arma semiautomática.

Após a tragédia, as suas vítimas registaram queixa contra a Polícia Federal (FBI) por ignorar essas informações. O Departamento de Justiça concordou em março em pagar 127,5 milhões milhões de dólares para resolver o processo.

Quando aconteceu, o massacre de Parkland foi o pior numa escola dos EUA desde o tiroteio de Sandy Hook, em 2012, no qual 26 pessoas foram mortas.

E provocou uma mobilização inédita liderada por vários jovens sobreviventes e pais de vítimas. Em 24 de março de 2018, a "Marcha Pelas Nossas Vidas" reuniu 1,5 milhão de pessoas em todo o país, a maior manifestação já realizada nos Estados Unidos a favor de um maior controlo sobre a posse de armas de fogo.

Porém, desde então, nenhuma reforma legislativa foi aprovada no Congresso, e as vendas de armas continuaram a aumentar.

Após os últimos incidentes com armas de fogo, foi aprovada uma modesta lei federal que prevê o aumento do financiamento para a segurança escolar e a saúde mental.

*Por Gerard Martinez com Charlotte Plantive /AFP