“Não somos uma moeda de troca ligada às eleições americanas e à política interna dos EUA”, disse Rohani no seu discurso pré-gravado difundido na Assembleia Geral das Nações Unidas, citado pela AFP.

Dirigindo-se a quem saia vencedor das próximas eleições presidenciais americanas, agendadas para 03 de novembro, Rohani disse que “qualquer Governo saído das eleições não terá alternativa senão ceder perante a resiliência iraniana”.

O presidente norte-americano, Donald Trump, que se recandidata a um segundo mandato, retirou os EUA do acordo nuclear assinado com o Irão durante a administração de Barack Obama para evitar uma corrida ao armamento nuclear pelo Estado iraniano, restabelecendo depois as sanções ao Irão.

Donald Trump acredita que sairá vencedor das eleições de novembro, e que o Irão acabará por ceder à “pressão máxima” dos EUA, negociando um novo acordo em termos impostos pelos americanos.

Joe Biden, adversário democrata de Trump nas presidenciais de novembro e ex-vice-presidente de Obama em funções quando o acordo com o Irão foi assinado, continua a defender o texto original, cada vez mais ameaçado pelas sanções de Washington ao Irão e a resposta de Teerão a essas sanções.

“Os EUA não nos podem impor nem negociações, nem a guerra”, disse hoje Hassan Rohani.

“A vida é dura debaixo de sanções. Mas a vida sem independência será ainda mais dura”, acrescentou.

E perante a rejeição quase unânime do Conselho de Segurança da ONU à exigência dos EUA para que as Nações Unidas retomem as sanções ao Irão, Rohani reclamou vitória.

“A era da dominação e da hegemonia terminou”, disse, acrescentando que “o mundo deve agora dizer não às intimidações e à arrogância”.

No seu discurso, Trump fez uma alusão ao Irão, congratulando-se por ter retirado o seu país do acordo nuclear e imposto duras sanções “ao país que mais apoia o terrorismo no mundo”, tendo depois o Presidente francês, Emmanuel Macron, respondido que a França e os seus aliados europeus, Alemanha e Reino Unido, não vão transigir na recusa em restabelecer sanções a Teerão.

Mesmo denunciando as violações do acordo nuclear assinado em 2015 por parte do Irão, Macron considerou a manobra unilateral de Washington uma ameaça à unidade do Conselho de Segurança que arrisca agravar ainda mais as tensões na região.

Rohani atacou ainda os EUA ao comparar a sua política interna e os casos de violência policial, como o que vitimou o afro-americano George Floyd, com a política externa, considerando que o caso Floyd era uma “reminiscência” da sua própria experiência.

“Imediatamente reconhecemos o joelho em cima do pescoço como o pé da arrogância sobre o pescoço das nações independentes”, disse o presidente iraniano, acrescentando que o seu país “pagou um elevado preço semelhante” na sua busca por liberdade e libertação da dominação.

Insistiu que o seu país “não merece sanções” e descreveu os EUA como um “elemento externo terrorista e intervencionistas”, antes de referir o apoio americano ao golpe de 1953 que cimentou o poder do Xá no Irão, que em última análise levaria o país à Revolução Islâmica e à hostilidade para com o ocidente.

Rohani fez ainda menção ao general Soleimani, da Guarda Revolucionária Iraniana, referindo-o como o “herói assassinado”, morto no início do ano por um ataque norte-americano em Bagdade — ao qual os iranianos retaliaram um ataque a uma base iraquiana onde estavam alojados soldados americanos.

A semana de alto nível na Assembleia Geral da ONU começou hoje, com a abertura do debate geral, num formato sem precedentes nos 75 anos da organização, em que os discursos de chefes de Estado e de Governo será feita por vídeos previamente gravados, devido à pandemia.

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