"Agressor aqui só há um: Bárbara Guimarães", disse Manuel Maria Carrilho nas suas últimas declarações em julgamento, antes de a juíza marcar para 15 de dezembro a leitura da sentença do processo em que o antigo ministro está acusado de violência doméstica contra a ex-mulher e apresentadora da televisão.

Optando por falar no final de julgamento, Carrilho considerou este processo um "aviltamento" à luta contra a violência doméstica, alegando o "torrencial de fragilidades da acusação" e as "tantas mentiras" que foram ditas em tribunal, nomeadamente por testemunhas que vieram dizer que a apresentadora só bebia "um copito" ou outro, quando, na realidade, apontou, já foi apanhada pela polícia a conduzir com 2,8 gramas de álcool no sangue.

Carrilho vincou que os filhos Dinis e Carlota são as verdadeiras testemunhas do que se passou e de quem, afinal, foi o agressor neste caso, alegando que foi "alvejado pelas costas" pela ex-mulher, que o acusou de violência doméstica, deixando a comunicação social "acampada" à porta da sua casa.

O ex-ministro admitiu que o "golpe" que lhe foi desferido pela ex-mulher o deixou "fora de si" e o levou a dizer publicamente coisas que não devia ter dito, mas que havia revelações que tinha de ser feitas.

"Quero reiterar a total inocência face à escabrosa acusação feita por Bárbara Guimarães", disse Carrilho, insurgindo-se contra aquilo que designou de "plano miserável", que disse estar a arrasá-lo e aos filhos, nos últimos quatro anos.

Em declarações aos jornalistas, no final da audiência, Pedro Reis, advogado de Bárbara Guimarães (que é assistente no processo), classificou as afirmações de Carrilho de "delirantes", observando que o antigo ministro "perdeu 45 minutos" a falar de processos que estão no Tribunal de Família, relacionado com os filhos, e não com o que está a ser julgado.

O advogado lembrou que Carrilho foi recentemente condenando, num outro processo-crime envolvendo também a ex-mulher, a quatro anos e seis meses de prisão com pena suspensa por violência doméstica e outros crimes.

À semelhança do que alegara em tribunal, o advogado de Bárbara Guimarães descreveu o arguido como um "homem frio, calculista e planeado, mas totalmente descontrolado ao mesmo tempo".

"Acham normal que uma pessoa que está acusada de violência doméstica, depois de uma investigação pública, feita de forma exemplar pelo Ministério Público (MP), venha dizer que ele é que é a vítima de violência doméstica?", questionou o advogado de Bárbara Guimarães, dando de imediato a resposta: "É absolutamente absurdo e põe em causa a própria justiça".

Na primeira sessão de alegações, o MP tinha pedido três anos e quatro meses de pena suspensa para Carrilho, dando como provado o crime de violência doméstica de que é acusado.

Nessa sessão, realizada na semana passada, o advogado de Bárbara Guimarães pediu uma pena efetiva de prisão de três anos e dez meses para o ex-ministro, considerando que foi provado o crime de violência doméstica e vários de difamação.

Por sua vez, a defesa de Manuel Maria Carrilho pediu a absolvição do seu cliente por as acusações serem uma “história patética e muito mal contada”.

Num outro processo que envolve o ex-casal, a 31 de outubro, o tribunal condenou Manuel Maria Carrilho a quatro anos e seis meses de prisão com pena suspensa por agressão, injúrias, violência doméstica, entre outros crimes cometidos contra a apresentadora de televisão em 2014 a quem terá de pagar 50 mil euros.