“Só se houvesse algo de extraordinário” é que Jair Bolsonaro seria reeleito na segunda volta, defendeu Celso Amorim, que ocupou as pastas das Relações Exteriores e da Defesa durante as presidências de Itamar Franco, Lula da Silva e Dilma Rousseff.
Lula da Silva venceu a primeira volta das eleições presidenciais brasileiras no último domingo com 48,4% dos votos, contra 43,2% obtidos por Bolsonaro.
“Acho que Lula teve na primeira volta um resultado confortável, mas temos que trabalhar até ao último minuto”, acrescentou Celso Amorim, que intervinha numa videoconferência organizada pela Fundação Rosa Luxemburgo, com sede na Alemanha, para debater “Brasil depois das eleições: Implicações para a sustentabilidade nas relações económicas UE-Brasil”.
Celso Amorim explicou que se sente “confortável” com a eleição de Lula da Silva, a quem faltam “somente pouco mais de 1 milhão de votos”.
“Bolsonaro precisa de mais 7 a 8 milhões de votos para vencer na segunda volta. Só se houvesse algo de extraordinário”, vincou.
Celso Amorim reiterou que “ninguém pode ter a certeza absoluta” de vitória em eleições” mas, reiterou, “estou bastante confiante”.
O antigo ministro brasileiro reconheceu que Jair Bolsonaro pode ter a tentação de “criar um tumulto”, mas isso não seria sustentável: “não conseguiria o apoio dos militares””, manifestou.
No plano das relações externas, Celso Amorim disse que Lula da Silva na Presidência “dará prioridade à América Latina e ao Mercosul”, bloco regional que integra além do Brasil, a Argentina, Paraguai e Uruguai.
“As questões climáticas terão também a atenção” de Lula da Silva, antecipou Celso Amorim, que disse que o ex-Presidente “poderá adotar alguma medida para demonstrar que a política climática vai estar no centro da atenção do seu governo”.
“A parceria estratégica do Brasil com a UE e a América Latina é muito importante. Lula já disse que dará prioridade ao Mercosul”, afirmou.
Nas eleições do passado domingo, o partido do Presidente brasileiro, Jair Bolsonaro – conservador e ligado a setores fundamentalistas -, conseguiu eleger oito senadores dos 27 lugares que estavam em disputa e deverá iniciar 2023 com a maior bancada da câmara alta, o Senado brasileiro.
Ao todo, o campo político aliado ao ‘bolsonarismo’ conseguiu eleger 18 senadores.
No domingo foi a votos um terço do Senado.
Somente sete dos eleitos para o Senado, segundo a imprensa local, são simpatizantes do campo político do ex-Presidente Lula da Silva.
Os números das eleições são à imagem de um país do tamanho de um continente: além dos 11 candidatos presidenciais, concorreram ainda 224 a governador, 243 ao Senado, 10.630 a deputado federal, 16.737 a deputado estadual e 610 a deputado distrital, nos 27 estados (contando com o Distrito Federal) no país.
Dos mais de 29 mil candidatos, 1.323 procuraram a reeleição.
Com 99,99% das secções eleitorais apuradas, o candidato presidencial do Partido dos Trabalhadores, Luís Inácio Lula da Silva, tinha 48,43% dos votos, contra 43,2% de Jair Bolsonaro.
Os dois candidatos disputam uma segunda volta no próximo dia 30 de outubro.
Em terceiro lugar, mas com apenas 4,16% dos votos, ficou a candidata Simone Tebet, enquanto o candidato Ciro Gomes ficou foi o quarto mais votado, com 3,04%.
Soraya Tronicke (0,51% dos votos), Luís Felipe D’Ávila (0,47%), Padre Kelmon (0,07%), Leonardo Péricles (0,05%), Sofia Manzano (0,04%), Vera Lúcia (0,02%) e Eymael (0,01%) foram os restantes candidatos às presidenciais de domingo.
Mais de 156 milhões de eleitores brasileiros foram chamados às secções de voto, onde estavam instaladas 577.125 urnas eletrónicas, espalhadas por 5.570 cidades do país.
Ciro Gomes anunciou hoje que vai acompanhar a decisão do seu partido, Partido Democrático Trabalhista (PDT), de apoiar Lula da Silva na segunda volta das eleições agendadas para 30 de outubro.
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