Agora, o relógio da escola de Aberfan, que parou às 9h13 da manhã de 21 de outubro de 1966 - hora exacta em que um deslizamento de resíduos de carvão arrasou as salas de aula e as casas da aldeia, vitimando 116 crianças e 28 adultos -, vai ser exposto num museu galês.

Mike Flynn, cujo pai foi um dos socorristas que correu para a escola de Pantglas, entregou o relógio à colecção permanente do Amgueddfa Cymru - Museu Nacional do País de Gales, na quinta-feira.

Segundo noticia o Guardian, o relógio será exposto na galeria "Wales Is", no Museu Nacional de História de St Fagans, em Cardiff, a partir de 16 de fevereiro, relembrando um dos dias mais trágicos da história do País de Gales.

"O meu pai viajou de Cardiff para Aberfan. Eu tinha apenas sete anos, mas lembro-me vivamente do dia. Voltei da escola e tanto a porta da frente como a das traseiras estavam abertas. O meu pai devia lá estar, mas estava ausente. Depois, o desastre estava em todos os noticiários. Foi calmo, sinistro", contou Flynn, citado pela publicação.

O seu falecido pai, também Mike Flynn, era um trabalhador dos correios e paramédico do Exército Territorial. Descobriu o relógio no meio dos escombros e entregou-o à polícia, mas, após o inquérito sobre o desastre, o relógio foi devolvido à família, e só voltou a surgir em público no 50.º aniversário da tragédia, em 2016.

Fynn Sr. manteve o relógio na caixa em que lhe foi devolvido após o inquérito e, depois da sua morte, deixou-o ao seu filho para que o guardasse. "Mantivemo-lo embrulhado em pó e em película aderente", contou agora Flynn, que agora ofereceu o relógio ao museu.

"É o lugar mais apropriado. O relógio é uma recordação muito comovente do que aconteceu. Parece encapsular esse momento no tempo. É uma peça emotiva. A minha família tem sido a guardiã do relógio durante 55 anos, mas sentimos que era propriedade de Aberfan e da comunidade galesa".

"Estamos muito gratos ao Mike por ter doado o relógio. Significa muito. Não há muitos objetos que sobrevivam para contar a história do desastre de Aberfan. É uma oportunidade de contar uma história muito importante. Esperamos recolher muitos mais objetos relacionados com o desastre", afirmou Sioned Williams, principal curador de história moderna em St Fagans.

O debate deste tipo de aterros de carvão não desapareceu e o governo trabalhista galês continua a apelar à administração britânica de Boris Johnson para que atribua fundos a longo prazo aos aterros de resíduos que ainda ameaçam comunidades em todo o País de Gales.

Segundo a publicação, o governo galês defende que o clima extremo, provocado pela crise climática, está a tornar muitos destes locais instáveis e acredita que serão necessários pelo menos 500 a 600 milhões de libras durante os próximos 10 a 15 anos para os tornar seguros.

"A questão é uma questão viva. Preocupa-nos realmente que a história se repita se não tornarmos estes aterros seguros. Temos 40% dos aterros do carvão do Reino Unido no País de Gales (...) É um legado do passado industrial britânico e a Grã-Bretanha tem a responsabilidade de o corrigir, não apenas o País de Gales", afirmou Lee Waters, o vice-ministro galês para as alterações climáticas.