Segundo a página oficial na Internet da peregrinação do Papa Francisco a Fátima, a religiosa, libanesa a residir em Fátima desde 2000, “teve uma vida cheia de perigos, fugas e privações”, tendo sido migrante e refugiada.

Nascida numa família cristã no Líbano, Glória Maalouf “deixou o país quando rebentou a guerra civil em 1975 e acompanhou os pais que encontraram refúgio no Kuwait”.

“Ali vivia num mundo muçulmano, com muitas restrições, divisões que não entendia e acabei por me afastar de Deus. Correspondeu a um período em que, jovem adolescente, vivi uma fase de rebeldia contra a religião, contra Deus”, contou a irmã Glória ao ‘site’ oficial da visita do papa.

Uma oportunidade de emprego no Iraque levou a família a mudar-se mais uma vez, momento em que começou a “interessar-se por Filosofia e aproximou-se mais da religião e de Deus”.

Com a Guerra do Golfo, “a vida da família voltou a mudar completamente”, declarou ao ‘site’, precisando: “De repente, ficámos sem nada. Sem trabalho, sem dinheiro, em perigo constante, em fuga”.

A família fugiu, então, para o deserto.

“Foi aqui no deserto que tive a primeira sensação de que a minha vida interior precisava de mudar. Atrás de mim deixei tudo e não havia nada. À minha frente não havia nada. Por isso, rezei e decidi que era mesmo Deus que tinha de procurar, era a Deus que me tinha de agarrar”, explicou, resumindo: “Os meus pais decidiram emigrar para o Canadá e eu decidi emigrar para Jesus”.

Glória Maalouf entrou na Congregação das Servas do Coração Imaculado de Maria, em Itália, tendo sido convidada a abrir a casa desta ordem em Fátima, em 2000.

“Fui mesmo a primeira das irmãs a chegar a Fátima. Para mim, era tudo novo. Não conhecia Fátima, não conhecia nada das aparições, não conhecia a mensagem de Nossa Senhora”, esclareceu, referindo que depois de a ler ficou “apaixonada por Maria, pela mensagem”.

Na missa de sábado, a irmã Glória, que tem dupla nacionalidade, vai rezar uma oração em árabe.

“Pelos migrantes, pelos pobres e refugiados, para que por intercessão de Maria, que conhece as suas dores, se sintam acolhidos por todos os que lhes oferecem dignidade e razões de esperança” é a oração que vai ler.

A freira gere a rede de lojas do santuário e contacta diariamente com os peregrinos que chegam à Capelinha das Aparições, sendo que o facto de falar árabe permitiu já evitar situações embaraçosas.

“Um dia, ao passar pela Capelinha, vi que a oração estava a ser liderada em língua árabe por mulheres vestidas com o chador (vestes que cobrem todo o corpo, exceto a cara). Aproximei-me e verifiquei que rezavam a Fátima, mas não a Nossa Senhora e sim a Fátima, a filha do profeta”, referiu, acrescentando que avisou “as autoridades do santuário para o que estava a acontecer e desde então passou a haver mais cuidado na autorização de orações em língua árabe”.

Ainda hoje diz encontrar junto da Capelinha das Aparições muitos muçulmanos que rezam a Fátima.

“Falo com eles e penso: ‘Deus e Nossa Senhora sabem o que fazem. Se Nossa Senhora, na sua mensagem falou a todos, porque não a eles?’. Ela lá sabe”, declarou.

O Papa Francisco será o quarto Papa a visitar Fátima. Os anteriores papas que estiveram em Fátima foram Paulo VI (1967), João Paulo II (1982, 1991, 2000) e Bento XVI (2010).

No sábado, Francisco vai presidir à cerimónia de canonização dos beatos Francisco e Jacinta Marto, os mais jovens santos não-mártires. A cerimónia é a primeira realizada em Portugal.