Os domínios são variados e a ligação já vem de há muito. Desde a economia à política, até à área académica, a cooperação deve estabelecer-se através do "respeito mútuo" e do "fim do azedume", diz Henriques André, um funcionário público angolano que tem esperança no futuro.

"Espero que [as relações] sejam melhoradas a todos os níveis, porque, nos últimos anos, eram azedas. Com o novo Governo em Angola, estou em crer que as coisas melhorem", disse, destacando a importância, especificamente, do domínio económico: "Sabemos que temos muitas empresas portuguesas que operam em Angola e devem continuar a ajudar o país a sair do marasmo em que se encontra".

Quem recebe tem o dever de dar. É assim que Pascoal Facata, motorista de 50 anos, vê a visita de João Lourenço ao país irmão - uma retribuição da visita efetuada em setembro deste ano pelo primeiro-ministro português, António Costa.

O angolano diz também que, com esta visita, espera ver a cooperação económica "solidificada": "Desde que haja uma relação, cada uma das partes deve respeitar essa relação" e "Portugal deve ver Angola como um país soberano, independente. Espero ver maior reforço no domínio da cooperação económica, precisamos de evoluir cada vez mais e penso que podemos contar com a ajuda de Portugal. A ida do Presidente a Portugal tem um significado especial", salientou.

Já Neusa Gourgel, professora e contabilista de 37 anos, aponta a necessidade de Angola reforçar a cooperação com Portugal nos setores da Saúde, Economia, Educação e Banca, porque, justificou, o "país tem necessidades nesses domínios".

Para Otávio Luís, que trabalha como relações públicas, a ligação entre ambos os países está "ótima", pelo que prevê também "melhorias no domínio político e financeiro", porque "os investimentos" de angolanos em Portugal e de portugueses em Angola "continuam a unir os dois povos".

"Acho que, acima de tudo, é uma questão política e acredito que, se a questão política estiver bem resolvida, a questão financeira também estará bem acompanhada, uma vez que temos muitas coisas em comum entre os dois povos", salientou.

Já a professora Vanda Miguel, de 49 anos, considera que João Lourenço vai a Portugal com "boas intenções" e com vontade de "aproximar cada vez mais" os dois povos, "intrinsecamente ligados com ou sem vontade".

A professora lembra ainda a questão dos vistos de quem deixa Angola rumo a Portugal: "Espero que [a emissão de] o visto dos angolanos para Portugal seja melhorado. Ambos os Estados deveriam encontrar mecanismos para facilitar os vistos, já que a nossa ligação é muito boa", acrescentou.

A paixão pelo desporto que se faz em Portugal, particularmente o futebol, também foi exteriorizada pelos angolanos, que, em Luanda, admitem, na sua maioria, "sofrer" com o Sport Lisboa e Benfica, muitos "arrastados" pelo antigo avançado Pedro Mantorras.

"Sou do Benfica, este clube está no meu coração e sempre gostei a equipa do Benfica, por vezes nem janto, quando a equipa não apresenta um bom resultado", disse João Manuel, funcionário público.

Henriques André, também de "águia ao peito", manifesta crença em dias melhores para o clube encarnado lisboeta - "é a equipa que gosto e sofro muito, sobretudo com os últimos resultados e acho que o atual treinador vai melhorar a situação da equipa".

Além do chefe de Estado e da primeira-dama, Ana Dias Lourenço, a delegação de angolana nesta visita oficial — que começa esta quinta-feira e termina domingo — integra vários ministros, com a perspetiva de assinatura de acordos bilaterais.

A visita de Estado de João Lourenço começa Belém com cerimónias militares e a deposição de uma coroa de flores no túmulo de Luís de Camões, antes de uma visita guiada ao Mosteiro dos Jerónimos. O Presidente da República portuguesa, Marcelo Rebelo de Sousa, recebe o seu homólogo às 11:50.

Às 15:00, o chefe do Estado angolano e o presidente do parlamento português, Ferro Rodrigues, discursam numa sessão solene da Assembleia da República e João Lourenço segue depois para a Câmara Municipal de Lisboa, onde irá receber a chave da cidade das mãos do presidente da autarquia, Fernando Medina.

Na sexta-feira, o Presidente angolano será recebido no Porto pelas autoridades locais antes de discursar no Fórum Económico e Empresarial Portugal/Angola, tal como o primeiro-ministro português, António Costa.

Pelas 11:45 chegará à Câmara Municipal do Porto onde o autarca Rui Moreira lhe vai entregar as chaves da cidade.

João Lourenço é esperado cerca das 12:00 no Palácio da Bolsa para a assinatura de acordos e almoça com empresários portugueses e angolanos, antes de regressar a Lisboa. Já na capital, o presidente de Angola encontra-se às 16:30 com a comunidade angolana residente em Portugal.

No sábado João Lourenço visita, a partir das 09:25, a base naval do Alfeite e almoça com Marcelo Rebelo de Sousa, antes de pôr fim à visita oficial.

A partida de Lisboa para Luanda só está prevista para as 09:00 de domingo.