O fórum, segundo Borne, demonstra a “vontade de materializar” a aliança definida em finais de agosto entre os Presidentes francês, Emmanuel Macron, e argelino, Abdelmadjid Tebboune, e baseia-se em três pilares: económico, para desenvolver o comércio e promover o emprego; mobilidade e vistos, com foco nas áreas da educação, científica, artística e económica; e, por fim, apoiar a juventude.

Segundo Benabderrahmane, Argel pretende criar uma “dinâmica duradoura” nos intercâmbios com outros países, tal como o agora desenvolvido com França, baseados na “complementaridade e interesse mútuo”.

O objetivo, prosseguiu o primeiro-ministro argelino, passa por diversificar a economia, reduzir a dependência das exportações de hidrocarbonetos e atrair investimento estrangeiro, sobretudo nos setores farmacêutico, energias renováveis e agricultura, “oferecendo perspetivas positivas para as empresas francesas”

Na abertura do fórum, a primeira-ministra gaulesa lembrou que a França é o principal investidor na Argélia fora do sector dos hidrocarbonetos e assegurou que as empresas francesas estão “preparadas para participar na diversificação” económica pretendida por Argel, bem como apoiar os jovens “das duas margens do Mediterrâneo que querem agir e que estão cheios de ideias”.

Embora a questão energética não estivesse na agenda do governo francês, Borne indicou ser intenção de Paris “continuar a avançar” com a Argélia para aumentar as capacidades de produção de gás.

Um dia antes, domingo, os dois chefes de executivo presidiram à 5.ª Sessão do Comité Intergovernamental de Alto Nível Franco-Argelino — o primeiro desde 2017 — com o objetivo de abrir uma etapa de cooperação bilateral mais “densa” e em que foram assinados 12 acordos e memorandos sobre diversos temas relacionados com os domínios do trabalho, cooperação industrial, turismo e artesanato e ensino superior.

Borne chegou domingo à capital argelina acompanhada por uma delegação de 15 ministros e representantes de grandes empresas francesas, como o grupo Sanofi (farmacêutico) e Générale Energie (gás) e, segundo a agenda oficial, será recebida pelo Presidente Tebboune antes de regressar a Paris.

As relações entre a Argélia e a antiga potência colonial passaram por um período de tensão no outono de 2021 devido às polémicas declarações do Presidente francês sobre a natureza do sistema argelino.

Argel chamou o seu embaixador a 02 de outubro de 2021, em reação a propostas reveladas pelo jornal Le Monde, segundo as quais Macron afirmava que a Argélia, depois da independência, foi construída sobre um “história oficial reescrita” mantida pelo “sistema político-militar”, questionando também a existência de uma nação argelina antes da colonização francesa, a partir de 1830.

Como sinal de protesto, a Argélia interditou o espaço aéreo a aviões militares franceses que serviam o Sahel, região onde estão estacionadas as tropas da operação anti-‘jhiadista’ Barkhane, no Mali.

No início de novembro de 2021, o chefe de Estado argelino tinha adicionalmente advertido que não daria “o primeiro passo” para aliviar as tensões.

Macron expressou, depois, “pesar” pela polémica gerada e disse estar “fortemente empenhado no desenvolvimento” das relações bilaterais.

No início de dezembro, o então chefe da diplomacia francesa Jean-Yves Le Drian visitou a Argélia.

“Tivemos alguns desentendimentos com a Argélia nos últimos meses. Já aconteceu. Sempre houve dificuldades num momento ou noutro, mas sempre fomos capazes de resolvê-las”, disse Le Drian.

As relações entre a França, ex-potência colonial, e a Argélia sempre foram atravessadas por momentos difíceis.

A última crise tão grave como a de outubro passado data de 23 de fevereiro de 2005, quando o Parlamento francês aprovou uma lei reconhecendo o “papel positivo da colonização”.