De acordo com o Ministério da Saúde em Gaza, mais de 1.400 pessoas ficaram feridas nos confrontos. O primeiro palestiniano foi morto por tiros da artilharia israelita no início da manhã, mesmo antes do início dos protestos.

Num discurso esta sexta-feira, o presidente palestino, Mahmud Abbas, atribuiu a Israel toda a responsabilidade pelas mortes.

Os palestinianos e a Turquia acusaram Israel de "uso desproporcional" da força. A Liga Árabe classificou o ato de "selvagem".

O Crescente Vermelho Palestiniano identificou mais de 350 manifestantes feridos por tiros de soldados israelitas perto da fronteira, palco de confrontos frequentes entre habitantes do enclave sob cerco e soldados israelitas.

Dezenas de milhares de manifestantes, incluindo mulheres e crianças, reuniram-se em vários pontos da fronteira para "a grande marcha de retorno", um movimento de protesto que deve durar seis semanas para exigir o "direito de retorno" para os refugiados palestinianos e denunciar o estrito bloqueio a Gaza.

"A grande marcha do retorno" foi lançada por ocasião do "Dia da Terra", que marca a cada 30 de março a morte em 1976 de seis árabes israelitas durante manifestações contra o confisco de terras por Israel. Os árabes israelitass são descendentes dos palestinianos que permaneceram nas suas terras após a criação do Estado de Israel em 1948.

Os palestinianos e a Turquia denunciaram o "uso desproporcional" da força por Israel.

"Pneus queimados"

Um porta-voz do Exército israelita estimou em 30 mil o número de palestinianos em manifestações em "seis locais" na Faixa de Gaza esta sexta-feira.

No final do dia, o Exército israelita indicou que atacou três posições do Hamas na Faixa de Gaza em resposta a uma tentativa de ataque contra soldados por manifestantes.

Militares e políticos israelitas alertaram que o Exército não hesitaria em atirar, caso os palestinianos tentassem infiltrar-se no território israelita.

"O Exército israelita impôs uma zona militar fechada ao redor da Faixa de Gaza. Qualquer atividade neste setor requer a sua autorização", disse o porta-voz do Exército.

Os manifestantes "rolam pneus queimados e atiram pedras contra a cerca de segurança e tropas israelitas, que recorrem a meios antimotins e disparam contra os principais líderes", acrescentou.

Organizada oficialmente pela sociedade civil, "a marcha do retorno" é apoiada pelo Hamas, o movimento islâmico palestiniano que governa a Faixa de Gaza.

Israel e Hamas travaram três guerras no enclave palestiniano desde 2008 e observam desde 2014 um tenso cessar-fogo.

"Provocação"

O ministro israelita da Defesa, Avigdor Lieberman, alertou que "centenas de franco-atiradores (israelitas)" foram posicionados na fronteira.

"A liderança do Hamas está a brincar com as suas vidas", escreveu Lieberman em árabe na sua conta no Twitter, dirigindo-se aos habitantes do território palestiniano.

"Todos aqueles que se aproximarem da barreira (de segurança) vão colocar-se em perigo. Sugiro que continuem com as suas vidas diárias e não participem numa provocação", acrescentou.

Esta manhã, antes do início da "marcha de retorno", um agricultor palestiniano de 27 anos foi morto pela artilharia israelita perto de Khan Yunis, no sul do enclave.

Um porta-voz do Exército israelia explicou que dois "suspeitos" aproximaram-se da barreira e que tanques dispararam na sua direção.

Enquanto o Estado de Israel celebrará em maio seu 70º aniversário, os palestinianos ainda aguardam a criação do seu Estado, mais incerto do que nunca.

O direito ao retorno dos refugiados continua a ser uma exigência fundamental dos palestinianos e, para os israelitas, um grande obstáculo à paz.

O status de Jerusalém também é um ponto importante de tensão, ainda mais desde que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, decidiu reconhecer a cidade como a capital de Israel e transferir a embaixada americana para lá.

Tomada em 6 de dezembro, esta decisão seguida do anúncio da transferência da embaixada americana em meados de maio enfureceu os palestinianos, que querem fazer de Jerusalém Oriental, anexada por Israel, a capital do Estado a que aspiram.