Nos últimos dias, centenas de estudantes portugueses de Erasmus espalhados por vários países europeus queixaram-se de que não estavam a ter apoio do executivo nacional para o seu regresso a casa, por causa das medidas de restrição de circulação para conter a propagação do novo coronavírus.

“O que aconteceu é que alguns estabelecimentos de ensino superior esqueceram-se de indicar todos os nomes dos alunos que tinham em programa Erasmus”, disse hoje à Lusa o ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, para justificar a situação de desagrado desses alunos.

“Tinham razão os alunos que se queixavam de não ser contactados por nós. Tínhamos razão nós, quando dizíamos que estávamos a contactar todos os estudantes Erasmus”, explicou o chefe da diplomacia portuguesa, dizendo que esses cerca de mil alunos estão neste momento a receber o apoio de embaixadas e consulados.

O Ministério dos Negócios Estrangeiros garante que todos os cerca de três mil alunos Erasmus terão apoio do Estado português, para garantir o seu regresso, se assim o desejarem fazer.

A prioridade do Governo português centrou-se em Itália, o país europeu mais afetado pelo surto de Covid-19, onde todos os 30 casos de pedidos de regresso foram atendidos, segundo o ministro Santos Silva.

“Desses 30, 14 já regressaram e estamos a tratar do regresso dos restantes 16″, assegurou Santos Silva.

O ministro adiantou que a operação de repatriação de um dos países com mais alunos portugueses Erasmus, a Polónia, “correu muito bem”, afirmando que esses 160 estudantes regressaram com recurso a operações conjuntas com outros países, que montaram conjuntamente uma operação de repatriamento de cidadãos.

“Na Europa, a situação de repatriação tem sido razoavelmente simples, tirando partido da mobilidade interna no espaço comunitário”, explica Santos Silva, observando que mesmo no caso de Itália (onde havia fortes restrições de mobilidade) foi possível contornar as dificuldades.

Em Espanha, onde está restringida a mobilidade fluvial, ferroviária e aérea, a solução que o Governo português está a trabalhar é por via rodoviária, tornando as operações de repatriação dos alunos Erasmus um pouco mais demoradas.

O Governo português assegurou ainda que está a dar resposta a todos os pedidos feitos para repatriamento, por efeito da crise de pandemia, de turistas e viajantes ocasionais portugueses espalhados pelo mundo.

O ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, estima que sejam várias centenas o número de portugueses que neste momento estão a tentar o regresso a casa, estando a viajar nos vários continentes, e assegura que o Governo está a dar resposta a todos os pedidos junto de embaixadas e consulados.

“A minha maior preocupação, neste momento, é o caso do Peru”, disse Santos Silva, em declarações à Lusa, referindo-se a um grupo de cerca de 100 portugueses que procura o regresso a Portugal, depois de as autoridades peruanas terem colocado limitações às entradas e saídas do país, como medida de contenção da propagação no novo coronavírus.

Santos Silva afirmou que o Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE) tem dado resposta a todos os pedidos que têm chegado a embaixadas e consulados, para apoio na repatriação.

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Em vários casos, o repatriamento está a fazer-se no âmbito de esquemas de colaboração entre países europeus, ou mesmo com o recurso ao Mecanismo Europeu de Proteção Civil (da União Europeia), que permite conjugação de esforços entre diversos estados.

Foi o que aconteceu com um pequeno grupo de turistas que estava nas Filipinas e que está neste momento de regresso, juntamente com um grupo mais alargado de turistas alemães, depois de os governos de Lisboa e de Berlim se terem entendido para um plano de repatriamento.

Um esquema semelhante ao que o Governo português já tinha ensaiado na operação de repatriamento dos 18 portugueses que estavam na cidade chinesa de Wuhan, ponto de origem da pandemia causada pelo novo coronavírus, e que regressaram em aviões que trouxeram europeus para casa.

Nos últimos dias, o Governo fretou quatro voos à TAP para repatriar um grupo de portugueses que estava em Marrocos, e que devem estar totós de regresso a Portugal na sexta-feira.

Na Argélia, no Norte de África, o MNE tem também em curso uma operação para repatriar cerca de 100 portugueses que pediram ajuda à embaixada.

O novo coronavírus, responsável pela pandemia da Covid-19, infetou mais de 235 mil pessoas em todo o mundo, das quais mais de 9.800 morreram.

Das pessoas infetadas, mais de 86.600 recuperaram da doença.

Depois de surgir na China, em dezembro, o surto espalhou-se já por 177 países e territórios, o que levou a Organização Mundial da Saúde a declarar uma situação de pandemia.

Em Portugal, a Direção-Geral da Saúde (DGS) elevou hoje o número de casos confirmados de infeção para 785, mais 143 do que na quarta-feira.