De regresso ao poder desde meados de agosto, os talibãs apresentaram na terça-feira um Governo que não é nem “inclusivo” nem “representativo” da diversidade étnica e religiosa do Afeganistão, lamentou a União Europeia (UE), na mais severa crítica de Bruxelas dirigida ao atual regime.

O novo executivo integra diversas personalidades talibãs já muito influentes há duas décadas, quando os islamitas impuseram um estrito regime fundamentalista entre 1996 e 2001.

O Governo foi designado alguns dias antes do 20º aniversário dos atentados do 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos, que justificaram uma intervenção militar internacional dirigida por Washington e que implicou a queda do poder dos talibãs.

Todos os membros deste Governo, dirigido por Mohammad Hassan Akhund — um antigo colaborador próximo do ‘mullah’ Omar, fundador do movimento e que morreu em 2013 –, são talibãs. E quase todos pertencem à etnia pashtun.

Diversos dos novos ministros estão incluídos nas listas de sanções da ONU, e quatro estiveram detidos na prisão norte-americana de Guantánamo, na ilha de Cuba.

Mohammad Hassan Akhund é conhecido por ter aprovado a destruição, em 2001, dos budas gigantes de Bamyain (centro), segundo indicou Bill Roggio, chefe de redação do Long War Journal.

Abdul Ghani Baradar, cofundador do movimento, assume a pasta de vice-primeiro-ministro, e o ‘mullah’ Yaqub, filho do mullah Omar, o ministério da Defesa.

A pasta do Interior foi atribuída a Sirajuddin Haqqani, definido por Washington como terrorista e historicamente próximo da Al-Qaida.

Ao anunciar o Governo, o porta-voz talibã, Zabihullah Mujahid, afirmou que “não estava completo” e que o movimento tentaria incluir “pessoas provenientes de outras regiões do país”.

A UE recordou que a formação de um Governo “inclusivo e representativo” era “uma das cinco condições colocadas” para um eventual reconhecimento diplomático.

Numa reação oficial, os Estados Unidos também denunciaram a ausência de mulheres e manifestaram “preocupação” pelas “filiações e os antecedentes de alguns desses indivíduos”, apesar de indicar que devem ser avaliados “pelos seus atos”.

Hoje, o secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, deve reunir-se na Alemanha com os seus homólogos de 20 países envolvidos na caótica retirada do Afeganistão, para coordenar as suas posições.

Em Paris, e numa reação divulgada esta tarde, o executivo francês também considerou que “os atos coincidem com as palavras”, numa referência à composição da nova administração de Cabul.

A China, um dos raros países a manter aberta a sua embaixada em Cabul, optou por saudar a formação de um Governo, que põe termo a “mais de três semanas de anarquia”.

Em paralelo, o Irão insistiu hoje na necessidade da formação de “um Governo inclusivo” para alcançar a paz no país.

“Ignorar a necessidade de estabelecer um Governo inclusivo, a intervenção estrangeira e o uso de meios militares em vez do diálogo (…) são as principais questões que devem preocupar os amigos afegãos”, indicou o secretário do Conselho Supremo de Segurança Nacional do Irão, Ali Shamjaní.

Desde a tomada do poder, os talibãs têm reafirmado que mudaram de atitude, relativamente à sua primeira passagem pelo poder, mas as suas promessas permanecem pouco convincentes para os ocidentais.

O regresso do ministério para a Promoção da Virtude e a Repressão do Vício, que instaurou duras medidas repressivas na década de 1990, também tem suscitado inquietações.

“Todos os afegãos, sem distinção nem exceção, terão o direito de viver na dignidade e na paz no seu próprio país”, afirmou na terça-feira o líder supremo dos talibãs, Hibatullah Akhundzada, que se tinha mantido silencioso.

Akhundzada exortou ainda o novo Governo a “fazer respeitar a ‘sharia’ [lei islâmica]” e “erradicar a pobreza e o desemprego.

A economia afegã, assolada por décadas de conflitos e dependente de ajuda internacional, permaneceu em grande medida suspensa nas últimas semanas.

A situação no Afeganistão também dominou o encontro de hoje entre o secretário do Conselho de Segurança da Rússia, Nikolai Patrushev, e o assessor para a Segurança nacional da Índia, Ajit Doval.

“Foi alcançado um acordo sobre a coordenação das prioridades da Rússia e Índia em formatos multilaterais sobre o tema afegão”, indicou uma nota do Conselho de Segurança numa referência a reunião que decorreu em Nova Delhi.

A visita de Patrushev à Índia ocorre duas semanas após o contacto telefónico entre os líderes dos dois países, que sublinharam o empenho no reforço dos laços russo-indianos no combate contra a ameaça de propagação do terrorismo e do narcotráfico devido à situação na região.

Segundo o organismo de segurança russo, estes temas também foram abordados durante as reuniões mantidas por Patrushev em Nova Delhi.

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