De acordo com Francisco Figueiredo, da direção nacional da Federação dos Sindicatos de Agricultura, Alimentação, Bebidas, Hotelaria e Turismo de Portugal (Fesaht), na sequência do protesto dos trabalhadores do Serviço de Utilização Comum dos Hospitais (SUCH), em hospitais como o São João (Porto), Pedro Hispano (Matosinhos) e da Universidade de Coimbra apenas estão “a ser assegurados os serviços mínimos aos doentes acamados e aos médicos e enfermeiros que trabalham na urgência”.
Já nas áreas das lavandarias, resíduos e manutenção dos hospitais, disse, a paralisação está a registar uma adesão “superior a 70%”.
Para o dirigente sindical, estes níveis de adesão são “demonstrativos do descontentamento que existe no seio dos cerca de 3.500 trabalhadores do SUCH face à atitude da administração do SUCH e do Ministério da Saúde, ao não terem em conta o papel imprescindível que tiveram e continuam a ter no combate à pandemia”.
“Estes trabalhadores sentem-se discriminados em relação aos demais trabalhadores da saúde, na medida em que foram confrontados com as mesmas condições – aumento carga diária de trabalho, férias adiadas, recusa de dispensas para assistência aos filhos e família, elevados ritmos de trabalho e falta de pessoal, de EPI [equipamentos de proteção individual] e de testes de despistagem –, mas tiveram uma proteção muito mais frágil do que os médicos e enfermeiros”, sustenta.
A agência Lusa tentou ouvir a administração do SUCH, mas tal não foi possível até ao momento.
Segundo Francisco Figueiredo, “os trabalhadores do SUCH são equiparados aos trabalhadores da saúde para cumprimento de deveres, mas não são equiparados aos trabalhadores da saúde para beneficiar de direitos” e os seus “trabalho e empenho nesta fase difícil da vida não foram minimamente valorizados pela administração do SUCH nem pelo Governo”.
Concentrados esta manhã em frente às instalações da empresa no Porto, um grupo de cerca de uma centena de trabalhadores do SUCH entregou à diretora regional do Norte uma moção na qual se reclama a “negociação imediata do acordo de empresa para 2020; aumentos salariais de 90 euros para todos os trabalhadores com efeitos a 01 de janeiro e a redução do horário de trabalho para as 35 horas semanais”.
Os grevistas exigem ainda o pagamento do subsídio de risco de 7% e do trabalho prestado ao sábado e domingo com um acréscimo de um euro por cada hora prestada, assim como a atualização do subsídio de refeição para 5,10 euros e a criação de um regime de diuturnidades, a vencer de quatro em quatro anos, no valor de 20 euros cada.
A atribuição de uma compensação extraordinária “para que os trabalhadores que também estiveram na linha da frente contra a pandemia de covid-19 sejam compensados; a criação de um complemento de doença e de acidente de trabalho; a realização dos testes de despistarem da covid-19 a todos os trabalhadores e o reforço do quadro de pessoal, contra os ritmos intensos de trabalho, por melhores condições de vida e de trabalho”, são outras das reivindicações hoje apresentadas.
À Lusa, Francisco Figueiredo salientou que “os salários praticados no SUCH são muito baixos”, recebendo “mais de 90% dos trabalhadores apenas o salário mínimo nacional”, sendo que “a administração não retomou as negociações de revisão do acordo de empresa para 2020, apesar dos diversos pedidos feitos pela FESAHT”.
A pandemia de covid-19 já provocou mais de 501 mil mortos e infetou mais de 10,16 milhões de pessoas em 196 países e territórios, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.
Em Portugal, morreram 1.568 pessoas das 41.912 confirmadas como infetadas, de acordo com o boletim mais recente da Direção-Geral da Saúde.
A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro, em Wuhan, uma cidade do centro da China.
Depois de a Europa ter sucedido à China como centro da pandemia em fevereiro, o continente americano é agora o que tem mais casos confirmados e mais mortes.
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