“Esta média de 75% representa mais ou menos o valor da última greve da Função Pública de janeiro. Mas nota-se que na Saúde e na Educação continua a subir”, disse a coordenadora da Federação Nacional dos Sindicatos da Função Pública (FNSTFPS), em conferência de imprensa.

“Centenas e centenas de escolas estão fechadas”, informou Ana Avoila, precisando que em Beja, Évora e Santarém todos os estabelecimentos de ensino encerraram, enquanto em Sintra, em Vila Franca de Xira e Castelo Branco quase todas fecharam. Com bastantes encerramentos estão ainda os distritos do Porto, Coimbra e Lisboa.

Quanto aos hospitais, a sindicalista assinalou o aumento da adesão, que começou nos “65% a 70%” e acabou por forçar o encerramento de serviços, indicando que a paralisação também se fez sentir nos centros de saúde.

Durante a manhã, o cenário mostrou centros de saúde fechados e também consultas adiadas e muitos utentes com dúvidas sobre a presença dos médicos.

No Hospital de São Francisco Xavier, em Lisboa, cerca das 09:00, acumulavam-se utentes junto às máquinas que dispensam senhas para exames ou consultas marcadas e, apesar da existência de balcões de atendimento abertos, alguns meios complementares de diagnóstico não se realizaram.

Já no Hospital Beatriz Ângelo, em Loures, os serviços funcionaram normalmente e sem qualquer perturbação, segundo informou o hospital, ao contrário do que aconteceu na Unidade de Saúde Familiar da Venda Nova, na Amadora, onde todas as consultas foram desmarcadas.

No Porto, a adesão foi de 75% no Hospital de São João, segundo fonte sindical, ainda assim inferior aos 80% registados nos hospitais da região, e no Hospital da Nossa Senhora da Oliveira, em Guimarães, o dirigente do Sindicato dos Trabalhadores em Funções Públicas e Sociais do Norte João Lourenço apontou para uma "forte adesão".

Os hospitais foram, também em Coimbra, dos serviços públicos de Coimbra em que a greve nacional teve mais impacto, com adesões superiores a 90%, segundo o sindicato do setor.

No Algarve e até às 10:00 da manhã, a dirigente do Sindicato dos Trabalhadores em Funções Públicas e Sociais do Sul e das Regiões Autónomas Rosa Franco avançou com uma “adesão à greve [que] ronda os 80%” e disse que a paralisação é visível num “maior atraso para as consultas”, por falta de pessoal administrativo e auxiliar, estando apenas a ser garantidos os serviços mínimos.

Apesar de, em alguns locais, os serviços estarem a decorrer com normalidade, escolas em todo o país encerraram portas, deixando milhares de alunos sem aulas.

No Porto, pelo menos dez escolas estiveram fechadas durante a manhã, avançou à Lusa o coordenador dos Sindicatos dos Trabalhadores da Função Pública Orlando Gonçalves, enquanto em Vila Real cerca de 300 alunos ficaram sem aulas devido ao fecho da escola EB 2,3 Diogo Cão.

Em Coimbra, a maioria das escolas fechou, de acordo com o sindicalista José Manuel Dias, que adiantou registar-se uma adesão à greve de “mais de 80% dos trabalhadores” não docentes.

“A maior parte das escolas de Coimbra estão encerradas” ou a funcionar “com algumas condicionantes”, informou salientando ainda o encerramento das várias cantinas da Universidade de Coimbra.

Na zona da Grande Lisboa, também se verificou o fecho de várias escolas, como nos casos das escolas Professor Delfim Santos, Filipa de Lencastre ou Pedro Santarém, em Lisboa, e das quatro escolas de Loures, onde mais de 3.000 alunos ficaram sem aulas.

Cenário idêntico aconteceu no sul do país, tendo o fecho da Escola Básica de Santiago Maior, em Beja, obrigado os pais a um “jogo de cintura” e com a dirigente do Sindicato dos Trabalhadores em Funções Públicas e Sociais do Sul e das Regiões Autónomas a referir ter informação de que “a grande maioria das escolas do Algarve estão encerradas ou irão encerrar da parte da tarde”.

O setor da Educação também foi um dos mais afetados pela greve na Madeira, onde a adesão rondou os 50% a 55%, segundo o presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Função Pública da Região Autónoma da Madeira, Ricardo Gouveia.

Nos Açores, centenas de alunos concentravam-se hoje no exterior da Escola Secundária Antero de Quental, um dos principais estabelecimentos de ensino na ilha de São Miguel, onde não houve aulas por falta de funcionários para assegurar o normal funcionamento.

Tribunais, repartições de Finanças e serviços de Segurança Social foram outros dos serviços públicos a registar problemas de funcionamento em vários locais do país.

De acordo com a coordenadora da Frente Comum de Sindicatos da Função Pública, Ana Avoila, o nível de adesão nos serviços da Segurança Social esteve na ordem dos 80%.

Garantindo desconhecer até ao momento o impacto da greve no setor da saúde, o ministro que tutela a pasta, Adalberto Campos Fernandes, classificou a paralisação da função pública como uma expressão normal de um direito cívico, mas admitiu estar preocupado.

“Claro que me preocupa. E claro que temos com os utentes uma preocupação. Temos dito às equipas nos hospitais para que haja uma compensação desse tempo. Mas quem convoca greves não é o Governo, o Governo limita-se a cumprir o que a constituição determina, que é respeitar o direito à greve”, disse.

Convocada pela Federação Nacional dos Sindicatos dos Trabalhadores em Funções Públicas e Sociais (FNSTFPS), a greve nacional de hoje na Função Pública foi anunciada no início de abril para reivindicar aumentos salariais, pagamento de horas extraordinárias e as 35 horas de trabalho semanais para todos os funcionários do Estado.

O regime das 35 horas foi reposto em julho de 2016, deixando de fora os funcionários com contrato individual de trabalho, sobretudo os que prestam serviço nos hospitais EPE.

A FNSTFPS, afeta à CGTP, é composta pelos sindicatos do norte, centro, sul, regiões autónomas e consulares, e representa 330 mil funcionários.

A última greve geral convocada pela FNSTFPS com vista à reposição das 35 horas semanais realizou-se em janeiro do ano passado, e teve, segundo a estrutura, uma adesão média entre 70% e 80%, incluindo os hospitais.