“O colonialismo português, sobretudo a partir dos anos 40, realiza aquilo a que podemos chamar um pacto, fundamentalmente com a igreja católica, em que a catolicização do sistema colonial e a administração colonial vão de par a passo”, afirmou, em entrevista à agência Lusa o investigador coordenador do Instituto de Ciências Sociais (ICS) da Universidade de Lisboa.

António Costa Pinto sublinhou a antiga presença das missões protestantes e de outros credos religiosos cristãos em África e no colonialismo português: “Muita da socialização, por exemplo, da dinâmica de fuga de militantes independentistas, fundamentalmente em Angola, mesmo de Cabo Verde, da Guiné-Bissau e até de Moçambique, são feitas a partir de missões protestantes, muitas vezes de origem norte-americana”.

Era das missões protestantes que o regime mais desconfiava. “Controla-as e tem grande receio”, atesta o especialista.

“Jonas Savimbi, por exemplo, sai justamente a partir de missões protestantes”, afirmou, referindo-se ao percurso inicial do antigo líder da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), filho de um pastor da Igreja Evangélica Congregacional em Angola.

Também a partir da Casa dos Estudantes do Império – onde se encontravam vários estudantes das colónias a estudar na metrópole (Lisboa) – existiam “dinâmicas de fuga” de militantes pró independência, do território português para a Europa, no início da guerra colonial.

O conflito com as forças de libertação nas antigas colónias portuguesas em África teve início em 1961, no Norte de Angola e prolongou-se por 13 anos, depois de alastrar a Moçambique e à Guiné-Bissau. As independências ocorreram em 1975.