Desde a década de 80 que chamativos pedaços de plástico laranja, com as formas do gato mais preguiçoso do mundo, poluíam as praias desta zona costeira.

A rotina tem sido sempre a mesma: os membros da associação Ar Viltansoù, responsável pela limpeza das praias da região, recolhem periodicamente estes fragmentos de merchandising da areia.

"A nossa associação existe há 18 anos e, desde que foi criada, encontramos em praticamente todas as limpezas pedaços de telefones Garfield", o famoso gato laranja criado pelo cartunista americano Jim Davis em 1978, explicou Claire Simonin, presidente da Ar Viltansoù, à AFP.

Esta tornou-se uma prática tão comum que, como noticia a BBC, a associação fez destas 'carcaças' de telefone um símbolo da poluição das praias da região da Finistère, no extremo-ocidente da França.

Até agora, não se sabia a causa destes aparecimentos. A associação desconfiava que houvesse, por perto, um contentor responsável por fornecer este contínuo de telefones, mas nunca encontrou a fonte dos aparelhos, que ainda hoje são comercializados online como artigos vintage. As suspeitas não estavam erradas - era mesmo um contentor.

Uma nova campanha por parte da Ar Viltansoù para tentar solucionar este problema ambiental chegou aos ouvidos de um morador local, tendo-o lembrado da primeira vez que tinha visto um dos telefones, no início dos anos oitenta. Melhor ainda, lembrava-se de onde tinham vindo.

Tendo entrado em contacto com Simonin, o testemunho do morador, que ainda se lembrava do local, levou a equipa a descobrir um contentor cheio dos ditos telefones. Depois de descer uma escarpa escorregadia rumo a uma caverna submersa, a equipa avistou os destroços do contentor marítimo, e à sua volta, brilhavam os telefones, em bastantes melhores condições do que aqueles que vinham dar à costa.

Porém, à descoberta somou-se um sentimento de impotência. O contentor, ainda que visível, mantém-se inacessível e não se sabe quanto da carga é que ainda carrega. Para além disso, não só é difícil impedir que os telefones sejam levados pela maré, como também se sabe que, sendo de plástico, é uma questão de tempo até que estes se decomponham.

Há detalhes da história que ainda faltam conhecer para obter uma explicação completa. "Nós não temos ideia do que aconteceu naquela época, de onde veio, de que barco... Não sabemos se vários contentores caíram na água ou apenas um", disse Fabien Boileau, diretor do Parque Natural Marinho de Iroise, que também visitou a caverna.

Sem grandes alternativas, os trabalhadores da Ar Viltansou vão continuar a limpar Garfields das praias da Bretanha, uma maré de cada vez.


*Artigo atualizado e corrigido às 11h15