O Hezbollah lançou pela primeira vez um míssil na direção de Tel Aviv, anunciou hoje o exército de Israel, que efetuou novos bombardeamentos "de longo alcance" contra o movimento islamita no Líbano.
As sirenes foram acionadas durante a manhã na cidade israelita, que fica 100 quilómetros ao sul da fronteira libanesa, quando o Hezbollah disparou o míssil do tipo terra-terra, que foi intercetado, segundo o exército.
"É a primeira vez que um míssil do Hezbollah alcança a área de Tel Aviv", afirmaram os militares, que poucas horas depois anunciaram "ataques de longo alcance no sul do Líbano e na região do Bekaa".
O movimento islamita libanês afirmou que o alvo do seu míssil Qader era a sede do Mossad, o serviço de inteligência de Israel, considerado "responsável pelo assassinato dos líderes" do Hezbollah e pelas "explosões de pagers e walkie-talkies" da semana passada que deixaram dezenas de mortos.
A Força Aérea de Israel bombardeou nesta quarta-feira, pelo terceiro dia consecutivo, localidades do sul do Líbano e da região de Baalbeck, no leste, dois redutos do movimento islamista, que tem o apoio do Irão, grande inimigo de Israel. Segundo o Ministério da Saúde libanês, pelo menos 10 pessoas morreram nos ataques das últimas horas.
Em Teerão, o guia supremo iraniano, aiatola Ali Khamenei, afirmou que as mortes recentes no Líbano de vários dirigentes do Hezbollah em ações militares de Israel não conseguirão deixar o movimento islamita "de joelhos".
Os bombardeamentos empurraram centenas de milhares de libaneses para as estradas.
Nur Hamad, uma estudante de 22 anos de Baalbeck, falou do "clima de terror" desde o início dos ataques nas imediações da cidade.
"Passamos quatro ou cinco dias sem dormir, sem saber se acordaríamos de manhã. As crianças têm medo, os adultos também", disse.
A pedido da França, o Conselho de Segurança da ONU terá uma reunião de emergência nesta quarta-feira, em Nova York, onde a preocupação com a escalada entre o Exército israelense e o Hezbollah dominou a abertura da Assembleia Geral.
"Israel está empurrando a região para uma guerra aberta", alertaram os chefes da diplomacia do Egito, Iraque e Jordânia, que condenaram a "agressão israelense no Líbano.
O diretor da UNRWA (Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina), Philippe Lazzarini, teme "uma guerra total" e que o Líbano vire uma nova Faixa de Gaza, onde a guerra entre Israel e o movimento islamista palestino Hamas começou em 7 de outubro de 2023.
O papa Francisco denunciou a "terrível escalada" no Líbano, que chamou de "inaceitável", e pediu à comunidade internacional que faça todo o possível para acabar com a crise.
Na segunda-feira, os primeiros ataques israelenses em larga escala no Líbano mataram 558 pessoas e feriram mais de 1.800, segundo as autoridades libanesas, o maior número em apenas um dia desde o fim da guerra civil no país (1975-1990).
Israel anunciou na semana passada o deslocamento do "centro de gravidade das operações militares" para o norte do país, ao longo da fronteira libanesa, para permitir o retorno de dezenas de milhares de habitantes deslocados pela violência na região.
O Hezbollah prometeu seguir atacando Israel "até o fim da agressão em Gaza", onde a guerra começou em 7 de outubro de 2023 com o ataque sem precedentes do Hamas contra o território israelense.
Desde então, os confrontos ao longo da fronteira norte de Israel com o Líbano não dão trégua.
Na semana passada, várias explosões de dispositivos de comunicação do Hezbollah, atribuídas a Israel, deixaram dezenas de mortos. E um ataque israelense em 20 de setembro contra os subúrbios ao sul de Beirute dizimou a unidade de elite do movimento.
"Já nem sabíamos de onde vinham os bombardeios. É como se desta vez houvesse ainda mais barbárie", declarou Zeinab Diab, 32 anos, refugiada numa escola transformada em abrigo perto de Beirute.
Neste contexto, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, adiou a viagem aos Estados Unidos para participar na Assembleia Geral da ONU.
O Hezbollah confirmou na quarta-feira que um dos seus comandantes militares, Ibrahim Mohamed Kobeisi, faleceu num bombardeio israelense na terça-feira, que deixou seis mortos e 15 feridos, segundo as autoridades libanesas.
"Vamos continuar a atacar o Hezbollah. E digo ao povo libanês: nossa guerra não é contra vocês, e sim contra o Hezbollah", disse Netanyahu.
O ataque do Hamas que desencadeou a guerra em Gaza deixou 1.205 mortos, em sua maioria civis, segundo um relato da AFP baseado em dados oficiais israelenses. Este balanço inclui os reféns mortos ou executados durante o cativeiro em Gaza.
Dos 251 sequestrados durante o ataque islamista, 97 permanecem em cativeiro em Gaza, embora 33 deles tenham sido declarados mortos pelo Exército israelense.
Em represália, Israel prometeu destruir o movimento islamista palestino, que governa Gaza desde 2007 e que considera uma organização terrorista, mesma classificação atribuída ao grupo por Estados Unidos e União Europeia.
A ofensiva israelense na Faixa de Gaza deixou pelo menos 41.495 mortos, a maioria civis, segundo dados do Ministério da Saúde do território, considerados confiáveis pela ONU. A operação também provocou um desastre humanitário em Gaza.
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