No “Caravela”, há uma espécie de persianas de plástico a separar as mesas, no “Anabelas kitchen” um recipiente para colocar canetas usadas e a desinfetar no final do serviço, e no “A Telha” o primeiro frasco de álcool para as mãos está logo antes de passar a porta de entrada.
O setor da restauração está autorizado a reabrir, em Berlim, a partir de hoje, mas com várias regras. Para quem trabalha, é obrigatório o uso da máscara, as mesas devem cumprir uma distância de, pelo menos, um metro e meio, é necessário desinfetar as mãos antes de entrar e sair e fornecer os dados pessoais.
“A Telha” vai trabalhar em três turnos de duas horas. Começam a servir hoje, às 16:00, e terminam às 22:00, horário de fecho obrigatório para todo o setor. O último serviço foi precisamente há dois meses.
O dono, Marcelino Valente Prazeres, aproveitou para renovar o restaurante, depois de dez anos sem tempo. Vê o lado positivo desta paragem forçada, e acredita que vai ser possível uma “adaptação a esta nova forma de trabalhar”.
“Vamos começar com uma ementa mais pequena, com quatro pratos de carne e quatro de peixe e um vegetariano. Vamos experimentar para ver se funciona”, confessa, otimista, à agência Lusa.
“À entrada da porta tenho um desinfetante, outro à saída do corredor, junto à casa de banho. Também há máscaras disponíveis para os clientes”, descreve o proprietário do restaurante português com cinco empregados.
Para hoje e sábado o espaço já está totalmente reservado. Por cada turno, e devido ao distanciamento obrigatório, são esperadas entre 30 e 35 pessoas.
O “Caravela” também tem lotação esgotada nos dois turnos da reabertura, a partir das 17:00.
Para o dono, Carlos Lopes, o confinamento também significou reformas. Como vive por cima do restaurante, foi a maneira que encontrou de não pensar em “coisas más”. Ainda experimentou o serviço “take-away” durante duas semanas, mas “não deu para os custos”.
“Foi muito difícil porque temos contas para pagar, até custa ir ao correio”, sublinha, realçando a importância da ajuda económica dada pela cidade e pelo Governo alemão.
“Uma grande ajuda, sem esse dinheiro acho que muita gente fechava. Com as rendas, a eletricidade, gás, água, segurança social, sem ajuda era impossível”, admite o proprietário do restaurante com mais de duas décadas.
Além do espaço entre as mesas, Carlos Lopes criou um sistema com uma espécie de cortinas de plástico para reforçar a segurança. Espera que tudo corra bem para que não regresse o “Fechado”.
“Mais três meses assim seria, para muitos, fatal”, desabafa, em entrevista à Lusa.
Anabela Campos Neves recorda o último dia de trabalho, em 13 de março, uma festa de anos privada com uma dezena de pessoas. Desde então, as portas não voltaram a abrir e recebem novamente clientes este sábado.
“Tirei os produtos alimentares que tinha e resolvi fechar e ficar em casa. Decidi fazer quarentena voluntária. E ainda bem, porque, passado uma semana, a senhora que tinha feito o aniversário enviou-me um correio eletrónico explicando que tinha testado positivo para covid-19”, partilha com a Lusa.
“Como há 12 anos que não tinha um tempo só para mim, foi o melhor que fiz. Felizmente não ficámos doentes”, conta.
O restaurante, de cozinha de autor, é um espaço familiar onde apenas trabalham duas pessoas. Vão começar “devagarinho”, “sem ‘stress’”, com um grupo de 11 pessoas. Para compensar a ausência de vários turnos, abrem também ao domingo.
“É muito complicado. Mas as medidas de higiene não diferem muito das que já existiam, o que difere é servir com a máscara. Estamos habituadas a desinfetar sempre as mãos, por exemplo”, explica, acrescentando que haverá também um recipiente onde os clientes vão colocar as canetas usadas, depois de preencherem os seus dados pessoais.
“A ementa vai ser apenas uma folha que o cliente pode depois levar consigo. Só vamos trabalhar com reservas e assim já sabemos como dispor as mesas”, acrescenta a proprietária, admitindo que a ajuda económica às pequenas e microempresas, e o “kurzarbeit” (lay-off) foram imprescindíveis.
“Recebemos ajuda muito rapidamente, 5 mil euros da cidade de Berlim e 9 mil euros do Governo alemão. Esse dinheiro tem de ser usado apenas nos custos do restaurante, renda e alimentação por exemplo, mas foi uma ajuda essencial”, aponta.
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