“É horrível que um responsável governamental russo sugira a pena de morte para dois cidadãos norte-americanos que estavam na Ucrânia”, declarou hoje um porta-voz da Casa Branca encarregado das questões de segurança nacional, John Kirby, reagindo às declarações do porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, numa entrevista à estação televisiva norte-americana NBC.

Peskov declarou que os dois norte-americanos capturados no início de junho no leste da Ucrânia quando combatiam com as Forças Armadas ucranianas, Alexander Drueke e Andy Huynh, “colocaram em perigo” soldados russos e deverão ser “responsabilizados por esses crimes”.

O porta-voz russo afirmou tratar-se de “mercenários” envolvidos “em atividades ilegais” e, portanto, não protegidos pelas Convenções de Genebra.

Inquirido sobre se corriam o risco de condenação à morte, respondeu: “Isso depende da investigação”.

Kirby considerou tais afirmações “alarmantes”, independentemente da intenção do porta-voz de Moscovo: “Quer seja o que eles querem realmente dizer — que esse é um resultado possível, impor a pena de morte a dois norte-americanos que combatiam na Ucrânia — ou quer pensem que uma grande potência demonstra poder ao falar em fazer isso”.

Alexander Drueke e Andy Huynh surgiram em vídeos transmitidos na semana passada por uma televisão pública russa, mas as circunstâncias em que estão encarcerados não ficaram claras.

Washington defende que a Rússia deveria tratá-los com humanidade, como qualquer prisioneiro de guerra, nos termos das Convenções de Genebra.

“Dissemo-lo claramente ao Governo russo”, declarou hoje um alto responsável norte-americano à imprensa em Washington.

Os diplomatas norte-americanos argumentam que as autoridades russas não lhes comunicaram qualquer informação diretamente sobre esses dois combatentes capturados.

“Que eu saiba, não temos oficialmente conhecimento de nada. Portanto, uma das nossas perguntas é: ‘Quem é que detiveram, se é que detiveram alguém, e onde estão eles? E se detiveram alguém, são obrigados a tratá-los nos termos [das convenções] de Genebra'”, insistiu o responsável que solicitou o anonimato.

O Departamento de Estado confirmou a morte de Stephen Zabielski, de 52 anos, precisando que está a dar assistência consular à sua família.

“Reafirmamos que os cidadãos norte-americanos não devem viajar para a Ucrânia, por causa do conflito armado e do risco de os responsáveis pela segurança do Governo russo os tomarem como alvos na Ucrânia devido à sua nacionalidade norte-americana”, afirmou um porta-voz da diplomacia dos Estados Unidos.

O porta-voz instou os norte-americanos que se encontram naquele país em guerra a “partirem imediatamente, se for seguro fazê-lo, por qualquer meio de transporte, comercial ou privado, por via terrestre”.

Stephen Zabielski é o segundo cidadão norte-americano cuja morte em combate junto das tropas ucranianas é confirmada desde o início da invasão russa da Ucrânia, a 24 de fevereiro.

Um ex-fuzileiro naval de 22 anos, Willy Joseph Cancel, foi morto nas mesmas circunstâncias no final de abril.

Num obituário publicado num jornal do Estado de Nova Iorque, onde Stephen Zabielski vivia, lê-se que o antigo trabalhador da construção civil, que deixa mulher e cinco enteados, morreu a 15 de maio “em combate na aldeia de Dorojniank, na Ucrânia”.

Segundo uma tabela com o número de combatentes estrangeiros que o Ministério da Defesa da Rússia divulgou na passada sexta-feira, cerca de 7.000 “mercenários estrangeiros” de 64 países chegaram à Ucrânia desde o início do conflito, e quase 2.000 destes foram mortos pelas forças russas.

“As nossas listas, de 17 de junho, incluem mercenários e especialistas em armas de um total de 64 países. Desde o início da operação militar especial, 6.956 chegaram à Ucrânia, 1.956 já foram eliminados e 1.779 saíram” do país, referiu o Ministério da Defesa russo em comunicado.

Desde o início da invasão russa da Ucrânia, milhares de voluntários estrangeiros, principalmente europeus, viajaram para o país para ajudar as forças de Kiev.

A Rússia apresenta esses combatentes como “mercenários”, um termo pejorativo que sugere que são motivados pelo dinheiro.

Os separatistas pró-russos condenaram três destes combatentes à morte, dois britânicos e um marroquino.

A ofensiva militar da Rússia na Ucrânia causou já a fuga de mais de 15 milhões de pessoas de suas casas — mais de oito milhões de deslocados internos e mais de 7,7 milhões para os países vizinhos -, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).

Também segundo as Nações Unidas, cerca de 15 milhões de pessoas necessitam de assistência humanitária na Ucrânia.

A invasão russa — justificada pelo Presidente russo, Vladimir Putin, com a necessidade de “desnazificar” e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia – foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e a imposição à Rússia de sanções que atingem praticamente todos os setores, da banca ao desporto.

A ONU confirmou que 4.597 civis morreram e 5.711 ficaram feridos na guerra, que hoje entrou no seu 118.º dia, sublinhando que os números reais poderão ser muito superiores e só serão conhecidos quando houver acesso a zonas cercadas ou sob intensos combates.

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