“Portugal vai mais uma vez bater o recorde de carga fiscal e deve ser por vergonha disso que nas 444 páginas do relatório do Orçamento do Estado não se fala uma vez de carga fiscal. Os brilharetes orçamentais estão a ser conseguidos à custa dos sacrifícios dos portugueses”, acusou Cotrim Figueiredo no debate parlamentar, incluindo nestes os que estão em risco de pobreza.

A troca de argumentos entre João Cotrim Figueiredo e o primeiro-ministro, António Costa, no debate na generalidade do Orçamento do Estado para 2023 (OE2023), foi hoje particularmente tensa, dias depois de o primeiro-ministro ter dito que percebe a saída do líder liberal, com acusações à IL de querer competir com o Chega na má educação democrática e no estilo de "luta livre no lamaçal".

O ainda presidente da IL perguntou por diversas vezes ao chefe do executivo com o que é que estava satisfeito, apontando a falta de crescimento económico, o estado das contas públicas e a carga fiscal ou os problemas na saúde e na educação.

Na resposta, António Costa referiu que o “pensamento económico liberal ficou bem demonstrado com a aplicação prática dessa receita mágica do choque fiscal” no Reino Unido.

“Já provou que resiste mais tempo que a sua parceira Liz Truss resistiu como primeira-ministra, mas só resistiu mais porque não teve oportunidade de pôr em prática o seu programa porque o seu resultado seria exatamente o mesmo do que teve o Reino Unido”, considerou.

Perante os apartes e os protestos da bancada liberal, o primeiro-ministro afirmou: “também querem competir com o Chega na vozearia? Têm que crescer muito ainda, têm que crescer muito, oh meninos”.

No início da sua intervenção, Costa disse que Cotrim Figueiredo "quando quer competir com o doutor André Ventura fica aquém, não consegue", considerando que isso "não é um defeito", mas "uma qualidade", compreendendo que "entenda que deva dar a vez a outro que se possa assemelhar mais" ao deputado do Chega.

"Eu não estou satisfeito. Se estivesse satisfeito ia-me embora, mas não me vou embora porque não estou satisfeito porque nós temos um compromisso com os portugueses e vamos prosseguir esse compromisso com os portugueses que assenta naquilo que tem provado bem ao longo destes anos", respondeu o primeiro-ministro.

No final da sua intervenção, o deputado liberal tinha elencado três propostas que o partido apresentará em sede de especialidade orçamental.

"Desagravar fortemente o IRS de quem está nos cinco primeiros escalões e não aqueles remendos do segundo escalão que consta da proposta do orçamento. E esta nova versão deste ano responde a todos os argumentos que o ano passado usaram para justificar a não aprovação. Vamos ver neste ano que argumentos é que vão usar. Eu acho que não vão sobrar argumentos, a razão é só uma: o PS de facto não gosta de baixar impostos", afirmou.

A IL quer ainda "ajudar aqueles que têm dificuldade em suportar os custos da habitação através da isenção de imposto de valores destinados especificamente a esse fim" e "acabar com a discriminação injusta daquela franja de trabalhadores independentes com profissões liberais tão mal tratados no que toca às taxas de retenção, ao desconto para a Segurança Social e à aplicação do regime simplificado".

"Se calhar a aprovação destas medidas não lhe daria grande satisfação, mas aos portugueses a quem elas se dirigem certamente dariam motivos para estarem satisfeitos", atirou Cotrim, pedindo ao primeiro-ministro que respondesse "com a elegância" que conseguisse e "sem mostrar capas de jornais que não lê, sem falar de outros partidos desta assembleia nem contribuir mais uma vez para aquilo a que chama lamaçal".