Numa manhã em que andaram por campos e serras, entre árvores ardidas, na zona de Penacova, em Coimbra, Carlos César e um grupo de deputados depararam-se com as dificuldades da burocracia.
Os deputados – Carlos César, Elza Pais, Jorge Lacão e Pedro Coimbra - ouviram o caso de António Dias, em Travanca do Mondego, que se queixa da burocracia na reconstrução da sua casa, que ardeu nos fogos de outubro, e está ali a uns metros da delegação socialista.
Desde então, já viveu em três casas e não há ainda previsão de quando poderá voltar a entrar na sua. Se demorar um ano, sorri, e diz que "já não será mau".
O presidente da Câmara de Penacova, Humberto Oliveira, ia atalhando explicações. Que a reconstrução é "uma prioridade" no seu concelho, onde 56 casas foram afetadas pelas chamas e 16 totalmente destruídas, como a da família Dias.
"Vai ser demorada", a globalidade da reconstrução e, "talvez no verão, algumas já estejam concluídas", admitiu.
A mulher de António Dias, Anabela Santos, rodeada pelos deputados, câmaras de televisão e jornalistas, sorri, nervosa, mas ainda se emociona a contar como se salvou dos fogos de outubro.
“Saí daqui de carro, no meio do fogo. Havia carros ardidos, três”, recorda, com a voz embargada. Conduziu o carro “no meio das chamas” e diz que, ainda hoje, não sabe como chegou à aldeia onde, finalmente, ficou a salvo.
Na aldeia de Ribeira, a uns 15 quilómetros de Travanca, um agricultor, Antero Mendes, teve cerca de 30 mil euros de prejuízos, “em máquinas, alfaias, no armazém”, mas só se candidatou “à ajuda de cinco mil euros” e “só recebeu 3.750 euros”.
A descer a deserta rua da Ribeira, Antero Mendes explica o que precisaria para se candidatar às ajudas capazes de suportar os 30 mil euros nesse dia em que pensou que ia morrer numa aldeia que “ardeu em dez minutos”.
Antero, que pratica uma agricultura de subsistência – “uns cereais para as ovelhas, umas couves, umas batatas” – teria de se coletar nas Finanças e arriscava-se a pagar mais impostos, além de ser um processo burocrático complicado.
Carlos César olhou, com ar preocupado, e comentou: “É preciso ser criativo nestas coisas.” Depois, admitiu que cada caso é um caso e que é preciso ser avaliado.
A comitiva anda mais uns quilómetros e está agora em Outeiro Longo, onde a empresa de reciclagem, Ambiasa, três meses após o incêndio, já está reconstruída - pelo menos as paredes e o teto do armazém/oficina.
António Almeida teve um prejuízo calculado de 300 mil euros, já gastou cerca de 70 mil na reconstrução, mas nem sequer se candidatou ainda às ajudas do Estado, o que está a pensar fazer.
E foi aí – enquadrado por peças de ferro-velho enferrujado - que Carlos César fez o balanço da manhã, assumindo, precisamente, que esta “não é uma visita para fazer propaganda do Governo, nem é uma visita para estimular desesperanças”.
Há 1.500 habitações a serem avaliadas, 300 já foram reabilitadas e 250 estão em reabilitação, descreveu.
Carlos César tinha mais números. “Mais de 27 milhões de euros foram empregues na reabilitação de diversas atividades económicas”.
E, na agricultura, “foram apoiados mais de 21 mil agricultores atingidos por estes incêndios”.
Até final da tarde, os mais de 80 deputados do PS estão a fazer visitas aos concelhos dos distritos de Coimbra, Leiria e Viseu afetados pelos incêndios que fizeram mais de 100 mortos e milhões de euros de prejuízos.
Hoje à noite, haverá um jantar do grupo parlamentar do PS, em que falará o líder socialista e primeiro-ministro, António Costa.
Na terça-feira, os deputados reúnem-se num hotel de Coimbra para discutir a transparência na política e a descentralização de competências para as autarquias.
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