"Notámos que as pessoas, obviamente, ficaram alarmadas, ficaram sensibilizadas, e os pedidos [para limpeza de mato] que nos têm chegado diretamente à Linha do Ambiente têm vindo a crescer", disse à agência Lusa a vice-presidente da Câmara Municipal do Funchal, Idalina Perestrelo.
A autarquia é a entidade responsável pela gestão da Estação de Transferência e Triagem de Resíduos Sólidos do Funchal (ETTRS), onde a chegada de viaturas particulares entre os dias 10 de agosto e 09 de setembro representou um aumento de 64% em relação ao mesmo período de 2015, ano em que praticamente não ocorreram incêndio.
Já a quantidade de resíduos descarregada traduz um aumento de 174% em relação ao ano anterior.
Além da movimentação dos particulares, a Câmara do Funchal respondeu diretamente a 120 pedidos de limpeza, um serviço habitualmente pago, mas que foi gratuito no período imediatamente após os incêndios, que provocaram três mortos e danos materiais na ilha avaliados em 157 milhões de euros.
"A limpeza de matas particulares é considerado pela autarquia um serviço extra, sendo no entanto possível as pessoas entregarem gratuitamente o mato na estação se utilizarem para isso a viatura própria", explicou Idalina Perestrelo.
Os incêndios do princípio de agosto, que começaram em zona florestal mas chegaram a áreas urbanas, desencadearam também um aumento considerável da procura por empresas especializadas em limpeza de matas, como confirmou à agência Lusa João Martinho Gouveia, gerente da FloraSanto - Agricultura e Silvicultura.
"Houve uma procura significativamente acima da média e tivemos muitos pedidos de orçamento", disse, sublinhando, porém, que as pessoas facilmente desmobilizam e que, em parte, isso está relacionado com o custo da operação.
João Martinho Gouveia lembrou que os terrenos na Madeira apresentam muitos declives e socalcos, o que impede o recurso a maquinaria pesada, usada apenas em 10% dos trabalhos, e encarece o trabalho.
"De um modo geral, as limpezas são feitas à base de roçadores de costas e de motosserras e a retirada do mato dos terrenos para a estrada é manual, o que tem um custo elevadíssimo", referiu.
Após os incêndios, a FloraSanto efetuou limpezas em vários locais nos concelhos do Funchal e Santa Cruz, mas João Martinho Gouveia insiste que "cada caso é um caso", pelo que os orçamentos são feitos não apenas com base na área a limpar, mas também nas características do terreno e na distância em relação à estrada.
Na Câmara Municipal do Funchal, a vice-presidente destaca o "trabalho de sensibilização" para a limpeza das matas que está a ser desenvolvido, mas reconhece que se trata de uma "tarefa difícil", atendendo sobretudo à orografia, ao abandono dos terrenos e às questões relacionadas com a titularidade da propriedade, que normalmente pertencem a diversos herdeiros.
A paisagem funchalense, nas encostas sobranceiras à baixa da cidade, é marcada por um vasto casario disseminado por entre terrenos agrícolas, na maior parte abandonados, o que potencia os riscos de incêndio.
"Que é trabalho difícil [a promoção da limpeza de matas], é, porque realmente o concelho tem muito verde, tem muitos terrenos abandonados", reconheceu Idalina Perestrelo, vincando, no entanto, que “não se pode baixar os braços".
A ilha da Madeira foi das áreas mais devastadas por incêndios este verão.
Comentários