Em audição em comissão de inquérito, Santos Ferreira admitiu que foi por sua decisão que levou Armando Vara da CGD para o BCP e disse que também por sua iniciativa teve na sua equipa no BCP Paulo Macedo (atual presidente executivo da CGD), José João Guilherme (atual administrador da CGD) ou António Ramalho (atual presidente executivo do Novo Banco).

“Tenho orgulho”, disse Santos Ferreira ao deputado do PSD Duarte Marques, que tinha referido o facto de várias pessoas que trabalharam com ele estarem hoje na liderança do setor financeiro em vários bancos.

Contudo, disse Santos Ferreira, o facto de ter amigos não tem impacto, referindo que lhe podem perguntar quantas vezes lhes telefona.

O ex-gestor disse que hoje vive, "bem", das suas reformas e não tem intervenção em quaisquer negócios.

Já sobre a ida de Armando Vara para a CGD, Santos Ferreira disse que o ex-ministro das Finanças Teixeira dos Santos (Governo PS, liderado por José Sócrates) assumiu essa escolha na primeira comissão de inquérito à CGD, há dois anos.

Ainda na audição de hoje, Santos Ferreira negou a teoria do assalto ao poder no BCP tal como já tinha feito há dois anos na primeira comissão de inquérito à CGD, considerando que esse “mito urbano” foi “criado por quem perdeu em 2008” para “ocultar o que se passou”.

Santos Ferreira foi presidente da CGD entre 2005 e 2008, tendo passado então para o BCP, de que foi presidente até 2012.

O relatório da EY, que deu origem à atual comissão parlamentar de inquérito à gestão do banco público, analisou concessões de crédito que acarretaram elevadas perdas para a CGD, muitos dos quais durante a presidência de Santos Ferreira.

Hoje, o gestor disse que enquanto era presidente do Conselho de Administração da CGD “todas as decisões foram tomadas no estrito cumprimento das normas existentes na Caixa na altura” e admitiu que muitos dos créditos com perdas foram concedidos na sua administração, mas considerando que “seria quase impossível que assim não fosse face à crise que se seguiu”.

Santos Ferreira recusou que tenha havido créditos de favor no banco e disse que não foi só a CGD que financiou compra de ações do BCP, mas também outros bancos o fizeram, como o próprio BCP, o BES e o Santander Totta.

Sobre Joe Berardo, disse não ter visto "nada que pudesse concluir que teve tratamento fora das regras", e quanto ao financiamento para o empreendimento Vale do Lobo afirmou que "é obvio que não é um momento bom da história da Caixa”.

Ao longo da audição que durou cerca de seis horas e meia, Santos Ferreira elogiou várias vezes os lucros que a CGD deu em 2006 e 2007, quando era seu presidente, e destacou que os resultados antes de impostos e interesses minoritários atingiram 2.064 milhões de euros em 2006 e 2007, referindo que mesmo que se deduza a esse valor todas as imparidades dos créditos concedidos em 2006 e 2007 que constam dos 25 mais problemáticos referidos no relatório da EY, "mesmo assim seriam de 1.300 milhões de euros".

"E se quiserem deduzir as imparidades de todos créditos concedidos neste período, mesmo assim os resultados da Caixa rondariam os 900 milhões de euros", acrescentou.

Ainda na audição de hoje, em resposta ao deputado do PCP Paulo Sá, Santos Ferreira afirmou que sempre deu importância à análise da direção de risco, ainda sem “antever a importância que teria hoje”, mas também vincou que quem decide créditos não é o risco mas a administração.

A audição a Santos Ferreira terminou com uma resposta à porta fechada, não aberta à comunicação social, para responder a uma pergunta do BE sobre um crédito específico.

Em janeiro deste ano foi conhecida a versão preliminar da auditoria da EY à gestão da CGD, em que são apontados problemas de concessão de créditos mal fundamentada, atribuição de bónus aos gestores com resultados negativos, interferência do Estado e ineficiências na gestão de risco.

Nesse documento divulgado pela comentadora Joana Amaral Dias a consultora avaliou sete operações de concessão de crédito com risco grave ou elevado e, só nestas, estimou perdas de mais de 1.000 milhões de euros, estando à cabeça as operações de financiamento da fábrica da La Seda, em Sines.

Ainda entre as operações com perdas elevadas estão empréstimos à Investifino (de Manuel Fino), para compra de ações da Cimpor dando ações do BCP e da Cimpor como garantia, Fundação Berardo, Auto-Estradas Douro Litoral e Vale do Lobo Resort.

(Notícia atualizada às 9h46 de 01/05/2019)