“Angola hoje tem uma crise económica profunda, estamos a passar um momento que eu diria difícil do ponto de vista económico, para as empresas isto é duro. Esta relação com Portugal pode ser muito útil, primeiro porque podemos partilhar da experiência que Portugal teve ao sair da crise”, afirmou a empresária, em entrevista à Lusa, à margem da visita que realizou nos últimos dias a Cabo Verde.
Empresária com interesses em várias e distintas áreas de negócio em Portugal e Angola, Isabel dos Santos sublinha a reação portuguesa à crise que levou em 2011 à intervenção financeira internacional e à forma como o país ultrapassou o período de assistência. Mas sobretudo a forma como as empresas “se reinventaram”.
“Mas mais do que as empresas, também partilhar experiências mesmo a nível da própria governação. Ou seja, criar um quadro, um plano de saída de crise [em Angola, que também pediu um plano de assistência financeira ao Fundo Monetário Internacional], porque é urgente que isso aconteça”, sublinhou.
“Nós, os empresários, sentimos muita dificuldade em continuar a trabalhar e investir em Angola”, admitiu, recordando que a aposta empresarial em Portugal começou há mais de uma década.
“Era um Portugal diferente, não é um Portugal de hoje. Foi só um bocadinho antes da crise, ou seja, apanhei se calhar a parte mais difícil em termos económicos em Portugal, mas sempre acreditei na resiliência da economia portuguesa, porque acredito que as empresas portuguesas têm essa capacidade de se transformar, de se adaptar”, apontou.
“Vi efetivamente que na altura da crise várias empresas foram inovadoras. Ou seja, não só apostaram na exportação, mas também em mudar os seus modelos de negócios. Obviamente houve setores que foram muitos afetados, aliás o setor da construção civil foi um desses durante a crise, mas hoje quem diria que há falta de boas empresas de construção em Portugal e trabalhadores, porque acho que está a haver um ‘boom’ imobiliário”, acrescentou.
Por isso, defende que a experiência de Portugal, que “teve de encontrar uma solução, de conseguir sair da crise, de reconstruir a sua economia” e de hoje atrair investimentos, tudo “isto em relativamente pouco tempo”, representa “um exemplo muito interessante” para Angola, até tendo em conta que são dois países com interesses económicos fortemente cruzados.
Questionada pela Lusa, a empresária diz que não consegue quantificar o investimento que já realizou em Angola até ao momento, por se tratarem de projetos a “longo prazo”.
“Comecei a trabalhar nos anos 90, posso dar alguns exemplos de investimentos feitos, nós investimos e isto é dinheiro privado, não é dinheiro do erário público, não houve aqui nenhum subsídio, não houve aqui nenhum aporte do Estado. Isto é pura e simplesmente investimento privado”, sublinhou, antes de apontar alguns exemplos de investimentos em Angola em que esteve envolvida.
“Nós investimos na maior rede de fibra ótica de Angola e estamos a falar de um investimento superior a dois mil milhões de euros (…) na indústria, numa das fábricas mais modernas, de ponta, de produção de cimento, estamos a falar de um investimento superior a 400 milhões de dólares [362 milhões de euros], (…) na indústria de bebidas, águas, refrigerantes e cervejas, e estamos a falar de um investimento de quase 200 milhões de dólares [181 milhões de euros]”, enumerou.
Garante que “a maior parte” do investimento que tem realizado “é em Angola”. Isto "porque acredito em Angola e em África”.
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