Este anúncio decorre antes de uma aguardada ofensiva israelita em Rafah, cidade superpovoada do sul do território palestiniano, onde sobrevivem amontoados cerca de 1,4 milhão de civis, segundo a ONU, apresentada por Netanyahu como "o último reduto" do movimento islamista palestiniano Hamas.

No sábado, Netanyahu já tinha anunciado que convocaria "no começo da semana" o seu gabinete para "aprovar os planos operacionais em Rafah, incluindo a evacuação da população civil".

Neste domingo, o líder israelita declarou em entrevista à emissora de TV americana CBS que "há lugar" para que os civis "vão para o norte de Rafah, para as áreas onde já terminámos os combates".

Israel prometeu lançar uma ofensiva terrestre em Rafah, apesar das pressões internacionais e das negociações em andamento para se alcançar uma nova trégua na guerra contra o Hamas.

Doha sedia uma nova ronda de negociações para um cessar-fogo, com a presença de autoridades de Egito, Qatar, Estados Unidos e Israel, além de representantes do movimento islamista palestiniano Hamas, informou um canal de televisão egípcio.

No entanto, a possível ofensiva contra Rafah, na fronteira com o Egito, seria apenas "adiada" se um acordo de cessar-fogo for alcançado, declarou Netanyahu à CBS.

"Tem de ser feito porque a vitória total é o nosso objetivo e a vitória total está ao nosso alcance, não a meses de distância, mas a semanas, uma vez que iniciemos a operação", acrescentou.

Na Faixa de Gaza, a situação continua a piorar e 2,2 milhões de pessoas, a grande maioria da população, estão em risco de "fome extrema em massa", de acordo com a ONU.

Os bombardeamentos não param e a ajuda humanitária entra a conta-gotas pelo posto de Rafah, onde depende da aprovação de Israel, que impôs um cerco total à Faixa de Gaza.

Um correspondente da AFP relatou que centenas de pessoas estavam a deixar as suas casas para se dirigirem a outras áreas do território, governado pelo Hamas desde 2007 e sujeito a intensos bombardeamentos israelitas desde 7 de outubro.

A guerra recrudesceu nesse dia, quando milicianos islamistas assassinaram 1.160 pessoas, a maioria civis, no sul de Israel, e sequestraram cerca de 250, segundo um balanço da AFP baseado em números divulgados pelas autoridades israelitas.

Em resposta ao ataque, Israel iniciou uma ofensiva aérea e terrestre que já deixou 29.692 mortos em Gaza, a maioria civis, segundo o Ministério da Saúde do território palestiniano.

"Eu vinha a caminhar (...) Não tenho palavras para descrever o tipo de fome que afeta aquela área (...)", declarou Samir Abd Rabbo, de 27 anos, que chegou a Nuseirat, no centro de Gaza, com a filha de um ano e meio.

"Não há leite (para a minha filha). Eu tento dar o pão que preparo com forragem, mas ela não consegue digerir (...) A nossa única esperança é a ajuda de Deus", disse à AFP.

Mesmo assim, ainda é possível evitar a fome extrema em Gaza se Israel permitir que as agências humanitárias enviem para o território "uma ajuda significativa", afirmou, neste domingo, o comissário-geral da agência da ONU para os refugiados palestinianos (UNRWA), Philippe Lazzarini.

No campo diplomático, os representantes reunidos em Doha estão a "garantir o acompanhamento do que foi discutido em Paris", para onde o chefe do Mossad, serviço de inteligência externa de Israel, David Barnea, viajou na sexta-feira. A informação é adianta pelo canal de notícias AlQahera News, próximo dos serviços de inteligência egípcios.

O assessor de Segurança Nacional da Casa Branca, Jake Sullivan, afirmou neste domingo que os representantes de Israel, Estados Unidos, Egito e Qatar, reunidos em Paris, "chegaram a um entendimento" sobre "quais deveriam ser os contornos básicos de um acordo sobre reféns para um cessar-fogo temporário".

"Haverá necessidade de discussões indiretas do Qatar e do Egito com o Hamas, pois eles terão de concordar em libertar os reféns", disse à CNN, insistindo em que "esse trabalho está em curso".

O emir do Qatar, Tamim bin Hamad al Thani, por sua vez, irá a Paris esta semana para abordar as negociações em curso com o presidente francês, Emmanuel Macron.

De acordo com uma fonte do Hamas, classificado como "terrorista" por Estados Unidos, Israel e União Europeia, o plano inclui uma trégua de seis semanas e uma troca de 200 a 300 prisioneiros palestinianos por 35 a 40 reféns.

Após uma troca realizada em novembro, as autoridades israelitas estimam que ainda haja 130 reféns em Gaza, dos quais 31 teriam morrido.

Entre os falecidos, está um soldado israelita de 19 anos, anunciou o Exército neste domingo.

Israel, que enfrenta crescentes pressões internas, exige "a libertação de todos os reféns, começando por todas as mulheres, e que esse acordo não signifique o fim da guerra", afirmou Tzachi Hanegbi, assessor de Segurança Nacional de Netanyahu. O Hamas, por sua vez, exige um "cessar-fogo total" e a retirada das tropas israelitas de Gaza.