Desde as 07:00 (11:00 de sábado em Lisboa) que, em todo o país, bem como na Austrália e na Coreia do Sul, os eleitores começaram a alinhar-se para votar, escolhendo entre 17 partidos concorrentes, dos quais sairão os 65 deputados do novo parlamento.
Nas estações de voto, nas ruas e nas redes sociais, muitos mostravam com orgulho os indicadores direitos marcados a tinta indelével de cor roxa, um dos símbolos do voto em Timor-Leste.
Fiscais partidários, observadores internacionais e muitos jornalistas, incluindo de Portugal, da Austrália e da China, têm acompanhado a votação, que decorre num número recorde de centros de votação, muitos deles instalados em escolas.
Desde cedo, os principais líderes do país votaram nas suas áreas de residência, com os responsáveis das principais forças políticas a mostrarem-se confiantes.
“Mais um dia histórico na consolidação da nossa democracia. Gostaria que saísse uma maioria absoluta, a bem do país e da governação”
O chefe de Estado, José Ramos-Horta, dos primeiros a votar, defendeu a tranquilidade depois do voto e insistiu na defesa de uma maioria absoluta.
“Mais um dia histórico na consolidação da nossa democracia. Gostaria que saísse uma maioria absoluta, a bem do país e da governação”, afirmou Ramos-Horta à Lusa.
“Creio que [depois do voto] não haverá problema. Receia-se sempre, porque em alguns países, como na Guiné-Bissau, e tenho experiência disso, o problema não é antes e durante as eleições, o problema é depois. Aqui, em Timor-Leste, não tem havido esse problema. Em todas as eleições os resultados foram aceites pelos derrotados”, afirmou o chefe de Estado.
Noutra ponta da capital, Mari Alkatiri e Francisco Guterres Lú-Olo, respetivamente secretário-geral e presidente da Frente Revolucionária do Timor-Leste Independente (Fretilin), reiteravam a confiança que manifestaram durante a longa campanha de um mês.
“Nós, a velha geração de 74,75, temos de ter consciência de que é necessário deixar algo de positivo, algo de sustentável para este país”
Alkatiri explicou à Lusa, depois de votar, que a eleição é crucial para que a velha geração deixe algo de positivo aos jovens, admitindo que será difícil participar intensamente em futuras campanhas.
“Nós, a velha geração de 74,75, temos de ter consciência de que é necessário deixar algo de positivo, algo de sustentável para este país”, disse à Lusa. “E, quer queiramos, quer não, esta deve ser a nossa última campanha em profundidade. E se não pensarmos assim, significa que na próxima (…) não sei para onde vai este país”, afirmou.
“Tanta coisa [a fazer]. E não pode ser que aquele que cometeu os erros é que diz que vai corrigir. Erros sobre erros, despesismo total, sem resultados, e depois diz que vai corrigir. Se é assim, se o povo quiser, é outra coisa, mas eu tenho a certeza de que o povo quer a mudança”, considerou.
"Votámos para a paz, para a estabilidade e para consolidar o nosso Estado de Direito democrático"
Francisco Guterres Lú-Olo mostrou-se confiante na vitória da Fretilin, antecipando que o voto marcará um novo período de estabilidade e prosperidade no país.
“Uma jornada muito importante para Timor-Leste. (…) Votámos para a paz, para a estabilidade e para consolidar o nosso Estado de Direito democrático. E votámos para desenvolver o país”, sublinhou, considerando que a postura da sociedade mudou.
“Garanto isso [estabilidade e prosperidade]. Garanto porque o povo em geral mudou de mentalidade. Mudou de mentalidade [após] ter de ter ultrapassado várias situações, deu para o povo pensar e hoje, pronto, dar o seu voto, a favor da paz, da estabilidade e do Estado de direito democrático”, afirmou.
“Passámos um mês inteiro em campanha, em todo o país, e posso dizer que vamos ganhar a maioria absoluta”
Em Balibar, na zona sul da capital, o presidente do Congresso Nacional da Reconstrução Timorense (CNRT), Xanana Gusmão, afirmou, depois de votar, que a prioridade será corrigir o que diz serem erros do atual Governo, liderado pela Fretilin.
“Passámos um mês inteiro em campanha, em todo o país, e posso dizer que vamos ganhar a maioria absoluta”, disse aos jornalistas.
O líder do CNRT, atualmente segunda força no parlamento, disse que os últimos seis anos ficaram caracterizados por atropelos quer ao Estado de direito quer ao sistema financeiro montado no país, situação que, se vencer, quer corrigir.
“Como um país jovem, estamos num processo de construção nacional e do Estado. Houve muitas violações e desrespeito do sistema, especialmente do financeiro, e por isso o que temos de fazer se ganharmos é corrigir isso”, afirmou.
“Segundo, temos um outro processo de construção nacional que temos de continuar: o nosso programa que foi sempre definido no plano estratégico de desenvolvimento. E nada foi feito sobre isso nos últimos seis anos”, sublinhou.
"Só se ganha quando se tem condições e capacidade para enfrentar os desafios. Foi o que nós fizemos”
No bairro de Metiaut, votou o primeiro-ministro e presidente do Partido Libertação Popular (PLP), atual terceira força no parlamento, defendendo que os cidadãos serão a sua prioridade, se voltar ao próximo Governo.
“A prioridade são os nossos cidadãos. Primeira, segunda e terceira prioridades”, disse Taur Matan Ruak, depois de votar na Escola Primária 17 de Abril, onde chegou acompanhado do filho e onde estavam, na altura, poucos eleitores à espera.
Mostrando-se confiante na vitória, vincando sentir-se honrado pelo apoio que venha a receber dos cidadãos, o chefe do Governo rejeitou que os últimos anos tenham sido difíceis, congratulando-se com o que foi feito pelo seu executivo.
“Primeiro, não foram anos difíceis (…) Só se ganha quando se tem condições e capacidade para enfrentar os desafios. Foi o que nós fizemos”, afirmou.
“Nós temos programa. A plataforma [do atual Governo] sabe o que quer e o que vai fazer. E nós estamos muito determinados a levar o nosso país para outro patamar de desenvolvimento”, disse, destacando como prioridades “combater a pobreza e a má nutrição”.
Já sobre se estas legislativas marcarão o último processo eleitoral encabeçado pelos líderes mais velhos, concretizando a tão falada transição geracional no país, Taur Matan Ruak, 66 anos, foi enfático: “eu vou viver até aos 150 anos, e alguém vai ter de me aturar”.
"Quando o povo decidir, depois, amanhã, pode discutir-se"
Já o presidente do Partido Democrático (PD) em Timor-Leste, Mariano Assanami Sabino, disse à Lusa que, após os resultados das legislativas, pode pensar numa coligação com o vencedor, mas que o partido está pronto “para servir”.
Questionado sobre se o PD estaria disponível para uma coligação pós-eleitoral com a Fretilin ou com o CNRT, Mariano Sabino disse que a decisão ainda está nas mãos dos eleitores.
“Depende. Porque a decisão é do povo. Quando o povo decidir, depois, amanhã, pode discutir-se [isso]”, mas o PD está “pronto a servir”, sublinhou.
O líder do PD defendeu ainda que Timor-Leste, enquanto nação democrática, “não precisa de [uma maioria] absoluta”, mas sim de programas sólidos, de visão e ação, para responder aos grandes problemas: “libertar o povo da fome” e assegurar “água e saneamento”.
“A minha expectativa é de uma participação alta”
As urnas fecharam em Timor-Leste, na Coreia do Sul e na Austrália, ao mesmo tempo em que, devido à diferença horária, tem início a votação na Europa As votações na Austrália foram as primeiras a fechar, às 15:00 locais (06:00 em Lisboa), seguindo-se as da Coreia do Sul e de Timor-Leste, faltando ainda votar os eleitores que estavam, na hora marcada para o fecho, já na fila para votar.
No caso dos três centros de votação na Austrália, cujos resultados serão os primeiros a ser conhecidos, a taxa de participação foi de 43,22%, tendo votado 969 dos 1.442 eleitores recenseados.
Em Melbourne votaram 623 eleitores, tendo votado 173 eleitores cada nos centros de Sydney e Darwin.
No caso de Melbourne, muitos dos votantes ficaram, depois, na sala, a acompanhar o escrutínio dos votos, com os boletins a serem mostrados, um a um, aos presentes.
Não há ainda dados da participação nem na Coreia do Sul nem em Timor-Leste, onde arranca agora o complexo processo de contagem.
Pouco antes do encerramento, o diretor-geral do Secretariado Técnico de Administração Eleitoral (STAE), Acilino Manuel Branco, disse à Lusa que não tinha havido registos de incidentes graves, com a jornada a decorrer com normalidade.
“Desde a manhã até agora todos os centros de votação no território nacional a funcionar bem; abriram a horas. Percorri inúmeros centros em Díli e vi, em muitos deles, grandes filas de eleitores a participar”, disse à Lusa.
“A minha expectativa é de uma participação alta”, explicou.
Entre outros aspetos, Acilino Manuel Branco referiu-se a alguns centros de votação onde os fiscais de um partido político queriam entrar todos, ao mesmo tempo, no espaço de votação, normalmente salas de aulas em escolas.
O primeiro rumor do dia, notou, foram alegadas queixas sobre a tinta indelével roxa que é usada para marcar os dedos dos eleitores, e que, tal como ocorreu nas presidenciais de 2022, foi adquirida com o apoio do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento.
Manuel Branco disse não ter encontrado qualquer fundamento para o rumor, que já teve direito a fotos nas redes sociais.
São 17 os partidos que disputam as eleições de hoje em Timor-Leste, cuja contagem pode demorar vários dias. Mais de 890 mil eleitores estão registados para a votação, na qual vão ser escolhidos os 65 deputados do Parlamento Nacional.
Oito dos partidos têm assento parlamentar e um faz a sua estreia, sendo que para eleger deputados as forças políticas têm de obter mais de 4% dos votos válidos.
A jornada eleitoral terá o maior número de sempre de eleitores no país e na diáspora, e o maior número de centros de votação.
Milhares de observadores de Timor-Leste e de vários países e centenas de jornalistas estavam acreditados para acompanhar a votação.
Comentários