"Quando o presidente da câmara [Carlos Moedas] diz ‘eu agora é que coordeno’, o que está a dizer é que nós não aceitamos mais pretensos coordenadores que não fazem nada e que não ajudam a resolver nada. A câmara municipal é que coordena, a câmara municipal é que vai fazer”, afirmou o vice-presidente da Câmara de Lisboa, Filipe Anacoreta Correia (CDS-PP), referindo-se ao coordenador do grupo de projeto para a Jornada Mundial da Juventude, José Sá Fernandes.
Contactado pela Lusa, José Sá Fernandes não quis comentar as declarações.
Filipe Anacoreta Correia, que tem assumido no executivo camarário a competência de preparação da Jornada Mundial da Juventude (JMJ), falava na reunião da Assembleia Municipal de Lisboa, no debate para declarações políticas, em que começou por ser questionado pela deputada do BE Isabel Pires sobre o evento e a “falta de transferência” na partilha de toda a documentação.
“Realmente, um processo onde há tanta gente, pretensos porta-vozes de projetos que em nada acrescentam, a câmara municipal tomou uma deliberação e seremos nós a coordenar aquilo que depende da câmara municipal com a Igreja, falando com a Igreja, resolveremos estes assuntos”, afirmou o vice-presidente da câmara.
O autarca do CDS-PP lembrou que o BE tinha competências executivas no mandato anterior, em coligação com o PS na câmara, quando em 2018 foi decidido candidatar Lisboa para acolher a JMJ e, nessa altura, não manifestou “grande preocupação” sobre o evento.
“O Governo nomeou um coordenador para a Jornada Mundial da Juventude, assim chamado, e ele vai ficar em funções - o Papa sai em agosto -, mas esse coordenador vai ficar até dezembro de 2024, mais um ano e meio. Seguramente, ficará para trabalhar, para apresentar contas, apresentar relatórios. Chamaram a isso transparência”, disse Filipe Anacoreta Correia.
Aos deputados, o vice-presidente da Câmara de Lisboa assegurou “toda a informação e toda a transparência”, referindo que essa prestação de contas do executivo municipal sobre a JMJ chegará antes do trabalho da equipa de José Sá Fernandes: “Não iremos esperar tanto tempo, não se preocupem, mas não me venham com pedidos repentinos”.
Isabel Pires considerou “essencial” ter toda a informação sobre a JMJ, que se realiza em Lisboa de 01 a 06 de agosto, e “absolutamente justificável” os sentimentos de “estupefação e indignação” sobre o custo do altar-palco no Parque-Tejo, contratado por ajuste direto por 4,2 milhões de euros, lembrando que para habitação municipal o executivo prevê cerca de 42 milhões de euros para quatro anos e para um evento que durará uma semana está disponível para gastar até 35 milhões de euros.
“Não podemos continuar a ter informação que sai aos poucos na comunicação social”, reforçou a bloquista, considerando que a liderança PSD/CDS-PP no executivo “tem sido muito pouco transparente neste processo”.
Do grupo municipal do PS, Manuel Lage apoiou as críticas do BE sobre a falta de acesso à informação da JMJ e acusou o executivo de “desnorte”, interpretando as recentes declarações do presidente da câmara, Carlos Moedas (PSD), relativamente à coordenação do evento como uma nova alteração da delegação desta competência, que já tinha sido retirada da alçada da ex-vereadora Laurinda Alves para passar para Anacoreta Correia: “Um pelouro que salta de um lado para o outro”.
Na segunda-feira, o presidente da Câmara Municipal de Lisboa disse que pediu a revisão dos preços e dos projetos da JMJ e que, a partir de agora, vai coordenar “tudo diretamente”.
“Eu pedi ainda hoje a todos que olhem novamente para os preços, que olhem novamente para todos os projetos”, afirmou Carlos Moedas, à entrada para a Conferência "Poder local, PRR e Descentralização" em Vila Nova de Gaia, no distrito do Porto.
A Jornada Mundial da Juventude, considerada o maior acontecimento da Igreja Católica, vai realizar-se este ano em Lisboa, entre 01 e 06 de agosto, sendo esperadas cerca de 1,5 milhões de pessoas.
As principais cerimónias da jornada decorrem no Parque Tejo, a norte do Parque das Nações, na margem ribeirinha do Tejo, em terrenos dos concelhos de Lisboa e Loures.
As jornadas nasceram por iniciativa do Papa João Paulo II, após o sucesso do encontro promovido em 1985, em Roma, no Ano Internacional da Juventude.
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