“Enquanto deputada não inscrita tenho tido a hipótese de trabalhar muito mais e em melhores condições e com um oxigénio enorme, embora com poucos recursos. O partido, para mim, foi um sufoco enorme. Era eu a desejar andar para a frente, e eles a puxarem-me para trás”, confidenciou, acrescentando que “foi altamente benéfico, digamos assim, este corte do cordão umbilical”.
Naquela que é a primeira entrevista desde que o partido lhe retirou a confiança política – e passou de deputada única a deputada não inscrita – Joacine Katar Moreira refere que ainda “há imensa coisa que precisa de ser esclarecida, confrontada, desautorizada, verificada” em torno do que levou à rutura com o Livre, mas mostra-se convicta de que houve “uma conjugação de interesses que tinha como objetivo afetar” a sua imagem e desacreditá-la “moral e politicamente”.
Instada a concretizar quais são esses interesses, a parlamentar disse ainda não fazer “a menor ideia, só daqui a alguns anos é que se irá olhar com algum distanciamento”.
Sobre as polémicas em que se viu envolvida no início do mandato, Joacine Katar Moreira apontou que “as ansiedades não começaram depois da tomada de posse, o ambiente no partido já não era bom antes das eleições, semanas antes”.
“Era óbvio que a minha ótica não era igual a uma parte dos elementos do partido. A campanha das eleições legislativas foi uma campanha à minha imagem e semelhança – antirracista, pela igualdade, feminista, que habitualmente não eram as bandeiras usuais [do Livre]. Mas avisei imediatamente de que ia levar até ao final da legislatura o que andei a dizer aos eleitores e às eleitoras e a defender durante a campanha”, concretizou.
Joacine acusa também o Livre de não apoiar “em momento algum” o trabalho legislativo através da subvenção partidária.
Questionada se pondera criar um partido com base nessas bandeiras, Joacine disse que “não é ainda hora de estar a imaginar a criação de um partido para daqui a quatro anos”, mas admitiu que “houve algumas manifestações neste sentido”.
Joacine Katar Moreira foi a primeira mulher negra a encabeçar uma lista de um partido a eleições legislativas e foi eleita no ano passado, pelo Livre, partido que lhe retirou a confiança política e do qual se desfiliou. Mantém-se como deputada não inscrita desde fevereiro.
À pergunta sobre porque é que não foi possível um entendimento com o Livre que evitasse este desfecho, a deputada respondeu que os dirigentes do partido “é que precisam de encontrar esses argumentos e justificar isto”, uma vez que foram eles que decidiram retirar-lhe a confiança política, acrescentando que mantém “os pilares” da sua eleição.
“Os argumentos que eles usaram na época são argumentos que entraram na onda da desinformação, que já estava no auge, da desinformação em relação a mim, do incitamento ao ódio em relação a mim. Eles usaram isto. São argumentos que não convencem ninguém que não deseje ser convencido, argumentos refutáveis facilmente”, salientou.
Quanto às eleições presidenciais do próximo ano a deputada não inscrita recusa adiantar quem irá apoiar enquanto não existir “uma lista de todos os candidatos”, mas assinala que “os nomes que surgem não são nomes nos quais votaria”.
Sobre o atual Presidente da República, diz que Marcelo Rebelo de Sousa “conseguiu ter uma atitude e um comportamento que o aproxima dos cidadãos”, algo que considera “positivo”.
Porém, “ideologicamente não será o meu candidato”, vincou.
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