“Poderei eventualmente (ou não) ter sido ingénuo ou utilizado. Mas repito: sou absolutamente alheio ao que se passou, que não imaginaria sequer nos meus maiores pesadelos e é completamente contrário aos meus princípios de vida e que passei aos meus quatro filhos”, diz o empresário e advogado numa mensagem escrita enviada à agência Lusa, após aterrar no Aeroporto Francisco Sá Carneiro, no Porto.
Assumindo que “ansiava” por este dia, e que “finalmente” está em Portugal, João Loureiro reconhece que não é o mesmo “que há pouco mais de um mês [27 de janeiro] saiu” do país a bordo do Falcon 900 da empresa OMNI - executive aviation, que descolou do Aeródromo Municipal de Tires, em Cascais, rumo ao Brasil.
“Fui abruptamente envolvido num autêntico furacão ‘sem saber ler nem escrever’. Estive três semanas praticamente sozinho e não desejo a ninguém o que comigo se passou. Confio em Deus, Ele sabe muito bem que sou totalmente alheio a tudo o que se passou, e confio que a verdade virá ao de cima”, frisa o advogado e antigo presidente do Boavista Futebol Clube.
Depois de descolar de Tires, às 14:20 de 27 de janeiro, o avião privado aterrou no aeroporto de Salvador, no estado da Bahia, pelas 21:15, hora local e, posteriormente, descolou de Salvador para o aeroporto de Jundiaí, no Estado de São Paulo, onde ficou estacionado cerca de uma semana.
Fontes ligadas à investigação explicaram à Lusa que nesse período as chaves da aeronave estiveram na posse de “pessoas estranhas ao voo e à operação”, as quais foram entregues pela tripulação, após autorização da administração da OMNI. A Lusa questionou a empresa de voos privados a quem autorizou a entrega das chaves, mas a mesma escusou-se a responder reiterando que é caso está em investigação e que é “totalmente alheia” aos factos relacionados com a apreensão da droga.
O Falcon 900 descolou depois de Jundiaí rumo a Salvador e, durante o voo, o comandante detetou falhas mecânicas, tendo solicitado uma inspeção técnica à aeronave.
Segundo o manifesto de voo da OMNI, a que a Lusa teve acesso, na viagem de Jundiaí para Salvador, realizada em 06 de fevereiro, seguiam a bordo, como passageiros, os empresários João Loureiro e Mansur Herédia, de nacionalidade espanhola, que se encontra em paradeiro incerto.
Durante a inspeção técnica foram descobertos pacotes suspeitos e chamada a polícia, que apreendeu a cocaína escondida na fuselagem da aeronave, a qual tinha sido dividida em embalagens com logótipos de marcas desportivas conhecidas.
Na mensagem enviada à Lusa, João Loureiro agradece ainda “todas as mensagens de carinho e solidariedade” que recebeu de “muitos portugueses, que compreenderam as difíceis condições” pelas quais passou nas últimas semanas, “devido à firme vontade” de contar a sua versão dos factos às autoridades brasileiras, explicando essa opção.
“Após o conhecimento que tomei da situação que todos conhecem, por respeito e vontade de colaboração com a justiça, [decidi]permanecer corajosamente no Brasil para, em primeira mão, prestar as minhas declarações junto às autoridades do país onde os acontecimentos tiveram lugar.Muitos no meu lugar seguramente não fariam o mesmo, o que, em meu entender, não tem sido devidamente valorizado”, lamenta o empresário.
João Loureiro deixa também um desejo.
“Só espero que um dia os seus verdadeiros responsáveis venham a ser descobertos por quem de direito, as autoridades competentes. Aliás, obviamente que se as autoridades competentes nacionais assim o entenderem, estou completamente disponível para também as esclarecer no momento próprio, como fiz com as brasileiras”, revela o advogado.
João Loureiro assume não guardar rancor, “mesmo a alguns que tudo fizeram para injustamente denegrir e menorizar” o seu nome, “vaticinando até (mal) que nem poderia regressar ao meu país e tantas outras coisas mais”.
“Sinceramente, não entendo a razão de ser de tanta incompreensão ou até ódio que por vezes têm por mim. Mas não sou de me ficar a lamentar, aceito o que a vida me traz, mesmo quando como neste caso é muito madrasta, e tenho o dever de seguir em frente, sobretudo quando sei nada de mal ter feito quanto à questão em apreço”, salienta Loureiro.
O empresário recorda que o processo está em segredo de justiça, assumindo que agora “é o tempo de dar espaço à justiça para atuar” e de ele descansar junto da família.
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