"Devo dizer que, na altura, havia uma razão evidente para esse mal-estar que existia nas relações entre os dois países. A situação foi, felizmente, ultrapassada, o bom senso acabou por prevalecer e aí devo destacar a postura irreparável demonstrada pelos dois executivos [português e angolano]", afirmou João Lourenço.
O chefe de Estado angolano falava na conferência de imprensa que marcou o fim da parte institucional da visita que o primeiro-ministro português, António Costa, efetuou a Angola, depois de questionado sobre se ficou surpreendido por, poucos meses depois de resolvido o "irritante" nas relações políticas, terem sido assinados hoje 11 acordos de cooperação entre os dois países.
Em causa estava o facto de as relações entre Angola e Portugal terem registado, em 2017, um período de crispação, devido ao processo judicial que envolvia o ex-vice-presidente de Angola, Manuel Vicente, acusado de corrupção ativa, branqueamento de capitais e falsificação de documento.
Para o regresso à normalidade das relações, o Governo de Luanda impôs como condição a transferência do referido processo para a justiça angolana, o que acabou por acontecer em junho deste ano, ficando assim ultrapassado o "irritante" nas relações, como António Costa chegou a classificar.
"[Os dois governos] mantiveram um diálogo permanente. Nunca deixámos de dialogar e gostaria de reconhecer a postura assumida quer pelo Presidente [português] Marcelo Rebelo de Sousa quer pelo primeiro-ministro António Costa. E ultrapassou-se essa situação que, de alguma forma, incomodava as nossas relações", afirmou hoje João Lourenço.
"Rapidamente as coisas se compuseram, ultrapassou-se o mal-estar e voltámos aquilo que seria desejável, a manutenção de relações normais que é o desejo de ambas as partes, que agora querem pensar só para o futuro e trabalharmos no reforço das relações de amizade e de cooperação entre Angola e Portugal", acrescentou.
"Os factos foram discutidos, não vamos repetir. Havia um acordo que, por razões que até hoje desconhecemos, não estava a ser cumprido. A partir do momento em que foi respeitado, aqui estamos. Vamos continuar o caminho", referiu.
Sobre o facto de, quando tomou posse como chefe de Estado de Angola, a 26 de setembro de 2016, na presença de Marcelo Rebelo de Sousa, ter "ignorado" referências a Portugal quando falou dos principais países parceiros de Angola, João Lourenço criticou a referência ao adjetivo e desdramatizou.
"Esta interpretação é sua [do jornalista], porque recordo-me que é citado um grande número de países. Sabemos que o planeta tem mais de 100 países e há muitos que não foram citados. Alguns deles têm relações económicas e tradicionais com Angola, países como Cuba. Portanto, a expressão ignorar parece ser muito forte, porque de facto não houve essa intenção deliberada de ignorar quem quer que seja", explicou.
Sobre a visita de António Costa, que o ladeava na conferência de imprensa realizada no Salão Nobre da Presidência da República, em Luanda, João Lourenço voltou a insistir na necessidade de os dois países olharem para o futuro.
"Portugal é importante para Angola, assim como Angola é importante para Portugal. É consciente desta realidade que recebemos em Luanda, hoje, o primeiro-ministro Costa", afirmou.
"Houve importantes discursos, de manhã, mas, mais importante do que os discursos, é o número, e sobretudo o conteúdo, dos instrumentos de cooperação que assinámos. Queremos manifestar perante os nossos países e ao mundo, quanto Angola e Portugal estão interessados em reforçar todos os dias os laços de cooperação bilateral", terminou.
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