A procuradora Cecilia Bignert acusou os franceses Hugo Auradou e Oscar Jegou por "abuso sexual com penetração carnal agravado pela participação de duas pessoas", tipificação que se dá ao crime de violação na Argentina, informou o Ministério Público de Mendoza num comunicado.

Associações de apoio especializado à vítima de violência sexual:

Quebrar o Silêncio (apoio para homens e rapazes vítimas de abusos sexuais)
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Associação de Mulheres Contra a Violência - AMCV
213 802 165
ca@amcv.org.pt

Emancipação, Igualdade e Recuperação - EIR UMAR
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Auradou, de 20 anos, e Jegou, de 21, não prestaram depoimento e foram confinados num centro de detenção provisória na capital de Mendoza (1.000 km a oeste de Buenos Aires), onde os factos teriam ocorrido na madrugada de domingo após jogarem contra os 'Pumas', nome por que é conhecida a seleção argentina de rugby.

Os acusados permanecerão detidos até à realização de uma audiência, prevista para daqui a 10 dias, para determinar se aguardarão o julgamento na prisão ou em prisão domiciliária, como se espera que peçam os seus advogados, para isso deverão estabelecer residência em Mendoza.

Martín Ahumada, porta-voz do poder judiciário de Mendoza, explicou que os acusados devem cumprir a detenção durante o processo judicial em Mendoza e que não podem ser transferidos para a França: "Deve ser aqui. Os crimes são territoriais e foram cometidos aqui."

Após conhecer a acusação, um dos advogados de defesa, Germán Hnatow, disse aos jornalistas que os franceses, que afirmam que houve consentimento e negam ter agredido a alegada vítima, "estão bem e seguros de sua versão".

"Eles estão tranquilos porque sabem que são inocentes no caso, mas é claro que estão preocupados com toda essa situação que tiveram que enfrentar", acrescentou o advogado.

Por outro lado, Mauricio Cardello, um dos advogados da denunciante, disse à AFP que a equipa está "satisfeita com a acusação", mas não descarta "pedir uma ampliação", embora isso não aumente a pena.

"Pode-se ampliar em relação à privação ilegítima de liberdade. Mas isso não mudaria a equação: o mínimo da pena do crime imputado é tão alto [oito anos] que absorveria a privação ilegítima de liberdade", afirmou Cardello.

Enquanto tudo isto acontece, França prepara-se para enfrentar a seleção argentina de rugby neste sábado em Buenos Aires, após ter vencido o Uruguai na quarta-feira em Montevidéu.

O treinador francês, Fabien Galthie, admitiu nesta sexta-feira numa conferência de imprensa em Buenos Aires que este caso afetou a equipa: "É um cataclismo, um trauma".

Repetição do crime

Após a partida de sábado, vários jogadores da seleção francesa foram ao bar Beerlin, onde consumiram uma grande quantidade de álcool, de acordo com um funcionário do local que pediu para ter sua identidade preservada.

No entanto, Andrés Civit, proprietário da Beerlin, disse à AFP que agiram "como qualquer outro consumidor habitual". "Não sei se ficaram bêbados, não vi ninguém a rastejar", acrescentou.

Natacha Romano, advogada da mulher, disse à AFP que a sua cliente conheceu Auradou numa discoteca de Mendoza na madrugada de domingo e depois foi com ele ao Diplomatic Hotel, onde os jogadores estavam hospedados.

Depois de entrar no quarto, ele "agarrou-a, atirou-a para a cama, começou a despi-la, bateu-lhe com violência feroz" e abusou sexualmente dela pelo menos seis vezes, descreve Romano.

Uma hora depois, Jegou entrou e "fez o mesmo selvagemente", acrescentou a advogada.

Romano afirmou que a mulher "tem cicatrizes nas costas, mordidas, arranhões, marcas nos seios, pernas e costelas", além da marca de um soco na cara.

Se forem considerados culpados, as jovens promessas do esporte francês podem receber penas de até 20 anos de prisão.

A pena contra Auradou pode ser maior porque sua acusação (abuso sexual com penetração carnal agravado pela participação de duas pessoas "em concurso" com abuso sexual com penetração carnal) inclui a repetição do crime, explicou uma fonte da Procuradoria.

Descompensação geral

Auradou e Jegou foram detidos na segunda-feira em Buenos Aires para evitar que deixassem o país e na quinta, foram transferidos para Mendoza.

No mesmo dia, a denunciante foi hospitalizada depois de sofrer um transtorno de humor chamado "hipotimia" e "uma descompensação geral do corpo como resultado de tudo o que aconteceu", disse Romano.

"Quando viu os relatórios, ficou angustiada, entrou em estado de choque total e desmaiou, sobretudo pelas lesões que a tomografia mostrou", declarou.