A proposta, segundo um comunicado do Eliseu, foi apresentada por Johnson numa conversa telefónica com Macron, a pedido do primeiro-ministro britânico.
“[Johnson] expressou a intenção de restabelecer uma cooperação entre a França e o Reino Unido, em conformidade com os valores e os interesses comuns (clima, Indo-Pacífico, luta contra o terrorismo, entre outros). O Presidente da República [Macron] respondeu-lhe que fica a aguardar pelas propostas”, lê-se no breve comunicado.
A crise diplomática envolve os Estados Unidos, Reino Unido e Austrália, que assinaram, a 15 deste mês, o pacto AUKUS (iniciais em inglês dos três países anglo-saxónicos), que visa reforçar a cooperação trilateral em tecnologias avançadas de defesa, como a inteligência artificial, sistemas submarinos e vigilância a longa distância.
Uma primeira consequência foi o cancelamento, pela Austrália, de um contrato com a França para o fornecimento de submarinos convencionais e a intenção de desenvolver submarinos nucleares em coordenação com os seus novos aliados, o que já originou protestos e críticas de Paris.
A França tinha um contrato para a entrega à Austrália de 12 submarinos com propulsão convencional no valor de 56 mil milhões de euros, que foi cancelado por Camberra, que comprou posteriormente os submergíveis aos Estados Unidos.
Paris expressou insatisfação com os três países signatários do pacto AUKUS depois de, na sexta-feira, o Presidente de França, Emmanuel Macron, ter decidido chamar os embaixadores em Washington e Camberra para consultas.
Por outro lado, a convocação do embaixador francês em Londres foi considerada desnecessária porque, segundo o chefe da diplomacia de França, Jean-Yves Le Drian, “o Reino Unido neste caso, ainda é um pouco a quinta roda da carruagem”.
“Conhecemos o oportunismo permanente” dos britânicos, acrescentou o ministro francês a 19 deste mês.
Noutro sinal de descontentamento, Paris também cancelou uma reunião marcada para esta semana entre a ministra das Forças Armadas francesa, Florence Parly, e o homólogo britânico, Ben Wallace.
Quarta-feira, Boris Johnson recomendou à França que se recompusesse pedindo, em francês: “Donnez-moi un break” (“give me a break” ou “deixem-me em paz”) e “laissez-moi souffler” (“deixem-me respirar”).
Na mesma ocasião, assegurou que o pacto de segurança AUKUS para a zona do Indo-Pacífico “não era exclusivo” e que não pretendia “excluir ninguém”.
Nos últimos meses, as relações bilaterais franco-britânicas também sofreram bastante com as tensões em torno das questões da implantação do Brexit, em particular na pesca, e do controle, considerado insuficiente por Londres, de migrantes que tentam chegar à Inglaterra vindos da costa norte da França.
Dentro do mesmo contexto, o ministro dos Negócios Estrangeiros francês advertiu na quinta-feira o homólogo norte-americano, Antony Blinken, que a saída da crise entre a França e os Estados Unidos levará “tempo” e exigirá “ações”.
Segundo um comunicado divulgado pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros francês, as palavras de Le Drien foram ditas a Blinken num encontro entre ambos realizado na missão diplomática gaulesa nas Nações Unidas, em Nova Iorque, em que analisaram a crise diplomática desencadeada com o contencioso relacionado com os submarinos.
“[Le Drian] lembrou que, quarta-feira, foi dado um primeiro passo com a conversa [telefónica] entre os dois presidentes [Macron, da França, e Joe Biden, dos Estados Unidos], mas lembrou que a saída da crise entre os dois países levará tempo e exigirá ação”, lê-se no comunicado.
Segundo o documento, Le Drian analisou com Blinken o fortalecimento do processo de consulta que os dois países concordaram para “recuperar a confiança”, tendo ambos concordado em manter “contactos estreitos”.
Quarta-feira, Macron e Biden concordaram nos primeiros passos para reduzir a tensão e concordaram em encontrar-se pessoalmente em outubro na Europa.
A primeira medida será o regresso aos Estados Unidos do embaixador francês, chamado a Paris na semana passada para consultas, tal como o representante diplomático francês na Austrália.
Uma medida sem precedentes que as autoridades francesas justificaram com o que consideraram uma “traição” dos três países aliados tradicionais e uma grave quebra de confiança.
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