Os primeiros resultados do estudo "Práticas de Leitura dos Estudantes dos Ensinos Básico e Secundário", do Plano Nacional de Leitura 2017-2027 (PNL2027) e o Centro de Investigação e Estudos de Sociologia (CIES-ISCTE) foram hoje apresentados no ISCTE, em Lisboa, e revelam um decréscimo nos hábitos de leitura dos jovens.
Em 2019, a maioria dos 7.469 alunos inquiridos admitiu ter lido menos de três livros por prazer nos 12 meses anteriores ao inquérito e, entre o 3.º ciclo e o secundário, cerca de 21,8% dos jovens disse não ter lido nenhum livro durante o mesmo período, mais do que em 2007, quando apenas 11,9% deu a mesma resposta.
Esta tendência verifica-se nos dois níveis de ensino, mas é no secundário que se regista uma diferença maior entre os dois períodos com a percentagem de alunos que não leram qualquer livro por lazer a passar dos 11,3% para os 26,2%.
“Regista-se uma diminuição do número de livros lidos à medida que cresce a idade e esta diminuição no ensino secundário pode estar relacionada com a exigência do ensino e a concentração nas leituras escolarmente mais produtivas”, explicou um dos investigadores, João Trocado da Mata, durante a apresentação.
Há ainda uma diferença contextual entre 2007 e 2019 que, segundo o investigador, poderá ajudar a explicar estes resultados: o alargamento da escolaridade obrigatória até 12.º ano, que resultou numa maior heterogeneidade no ensino secundário, que deixou de ser "uma espécie de filtro".
Os primeiros resultados do estudo apontam ainda para uma relação entre os hábitos de leitura dos alunos e o contexto familiar e, mais do que a escolaridade dos pais, é a relação das próprias famílias com a leitura que parece exercer maior influência.
Quanto mais forte é a relação da família com a leitura, mais livros os jovens dizem ter lido. Mas este é um fator que se relaciona também com a forma como os alunos utilizam a biblioteca escolar.
Segundo os dados referentes a 2019, a grande maioria dos estudantes utilizava a biblioteca para preparar trabalhos ou para aceder à internet, e apenas 16,1% para levar livros para casa.
No entanto, são os alunos que têm mais livros em casa aqueles que mais requisitam na biblioteca.
“Isto permite-nos pensar sobre um problema que tem a ver com o distanciamento (dos alunos em relação à leitura) e que as bibliotecas não estão a resolver”, sublinhou João Trocado da Mata, considerando que este poderá ser um segmento objeto de intervenção prioritária das políticas públicas.
A influência das famílias pode também ajudar a explicar o enfraquecimento dos hábitos de leitura, uma vez que mais de metade dos alunos (57%) diz que a família tem uma relação distante com a família e a percentagem de estudantes com menos de 20 livros em casa quase duplicou entre 2007 e 2019, passando dos 14,5% para os 27,3%.
Esta situação, consideram os investigadores, aumenta a complexidade do desafio colocado às escolas, exigindo o reforço de investimento na promoção de práticas de leitura, não só dos jovens e de adultos.
Também o secretário de Estado Adjunto e da Educação, que esteve presente na apresentação, destacou a necessidade de promover a leitura que não se esgotem no contexto escolar, mas cheguem também às famílias.
“Precisamos muito de uma incidência em planos de literacia familiar. Se há tanto que de depende da família, vamos também tentar chegar ao contexto familiar”, disse João Costa.
O secretário de Estado sublinhou ainda a importância do estudo, considerando que não só é importante que se continuem a desenvolver, como devem ser regulares, permitindo “saber, acompanhar e agir em função dos dados que são revelados”.
Os dados hoje divulgados fazem parte dos primeiros resultados do estudo "Práticas de Leitura dos Estudantes dos Ensinos Básico e Secundário", que analisa as práticas de leitura dos alunos do 1.º ciclo ao ensino secundário.
Os primeiros resultados referem-se apenas o 3.º ciclo e secundário, porque a pandemia da covid-19 obrigou à interrupção dos trabalhos de terreno no 1.º e 2.º ciclos.
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