“Ela apela aos segmentos onde a coligação de Biden está com maior dificuldade”, disse o analista político John King na emissão da CNN, a televisão norte-americana que moderou o encontro. “É um ativo que devia ter sido alavancado desde o primeiro dia”, acrescentou.
A vice-presidente entrou em ação nas horas que se seguiram ao debate, onde Joe Biden apareceu com pouca energia, voz rouca e aparente desorientação nalguns momentos.
“As pessoas podem debater sobre o estilo mas esta eleição tem de ser sobre substância”, afirmou Kamala Harris, numa entrevista à CNN em que foi pressionada sobre o desempenho de Biden.
“Foi um começo lento mas um final forte”, defendeu a democrata, salientando que o presidente “marcou um contraste com Trump em todos os tópicos que interessam aos eleitores norte-americanos.
Depois da CNN, Kamala Harris passou por uma outra televisão, a MSNBC, e voltou a descrever Biden como “muito forte” contra um Trump que mentiu.
“Kamala tornou-se muito mais importante para a campanha esta noite”, disse o comentador Lawrence O’Donnell na MSNBC.
As análises pela noite dentro debruçaram-se sobre se o partido democrata deve tentar que o candidato — ainda não confirmado na convenção — desista da corrida.
“Este foi um debate que mudou o jogo”, apontou John King na CNN. “Neste momento, há pânico no partido democrata, que envolve operacionais, oficiais eleitos, doadores”, continuou. “Consideram que o seu desempenho foi mau”, acrescentou.
A sondagem de rescaldo da CNN mostrou que os eleitores que assistiram ao debate deram a vitória a Donald Trump, com 67% contra 33% de Biden. A maioria (81%) disse que não mudou de opinião, enquanto 5% admitiram mudar o sentido de voto e 14% poderão vir a repensar.
“O pânico que estou a ouvir é algo que nunca ouvi antes”, afirmou a analista Abby Phillip. “As respostas de Biden não foram coerentes. É profundamente problemático que ele não tivesse conseguido responder de forma direta”, continuou. “Houve aqui um dano real”, acrescentou.
O desempenho titubeante de Biden, disse Phillip, “solidificou a perceção entre os eleitores que não acreditam que ele consegue fazer isto por mais quatro anos”.
O democrata Van Jones, que foi conselheiro de Barack Obama, reconheceu que a performance de Biden foi dolorosa e que o presidente falhou o teste a que se submeteu.
Também o veterano democrata David Axelrod salientou que o objetivo de Biden era aparecer energético e capaz de servir mais quatro anos. “Conseguiu pontos em questões de política como aborto e economia, mas há um sentimento de choque com a forma como ele apareceu no início”, apontou. “Parecia desorientado”, acrescentou.
O estratega republicano Scott Jennings considerou que a candidatura de Biden “caiu esta noite” e que a posição de Harris foi aumentada, considerando notável que a campanha tenha de impulsionar a vice-presidente para mitigar as lacunas do presidente. Já o republicano David Urban considerou o debate “um desastre absoluto”.
Na MSNBC, o biógrafo de Biden Evan Osnos afirmou que o candidato que apareceu no palco em Atlanta “é uma pessoa diminuída” em relação ao que se candidatou há quatro anos.
Após o debate, Joe Biden apareceu numa festa com apoiantes que se juntaram para ver a transmissão e a seguir foi a um restaurante falar com eleitores. Em ambas as paragens, pareceu ter mais energia e à vontade do que no palco.
Este foi o primeiro debate de sempre entre um ex-presidente e um presidente incumbente que se vão defrontar pela Casa Branca.
Os meios de comunicação apontaram para o desempenho abaixo das expectativas de Biden e para o número elevado de mentiras ditas por Trump, com os verificadores de factos a apontarem para mais de 30 instâncias em que o republicano não disse a verdade.
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