Cerca de quatro horas de interrogatório foi o tempo que durou, esta tarde, a audição da mãe das gémeas luso-brasileiras tratadas com o medicamento mais caro do mundo.

Em resposta às perguntas dos deputados, Daniela Martins pediu desculpa por ter dito uma "frase falsa e infeliz" na entrevista à TVI e disse que na altura "acreditava que era verdade" a influência do Presidente da República porque era o que ouvia nos corredores do hospital "como utente".

Ao longo das questões, a mãe das crianças afirmou sempre o desconhecimento sobre quem enviou emails à "nora" de Marcelo Rebelo de Sousa, mesmo quando confrontada com o texto do email que vinha do seu endereço pessoal.

Nas perguntas do Chega, André Ventura decidiu incluir a reportagem da TVI - que se acredita estar no início da polémica - na sessão para confrontação, o que provocou de imediato a reação do advogado de Daniela Martins, argumentando que expor as imagens de crianças menores é crime. A mãe das meninas lembrou que pela anterior exposição pública da imagem das menores existe um processo a decorrer no Departamento de Investigação e Ação Penal, em Oeiras.

Acusado por vários deputados de querer criar um "circo mediático" ou de estar "a trabalhar para as câmaras", André Ventura acabou por ter de se remeter à documentação escrita.

Inesperadamente, foi no momento em que o deputado do Livre começou por perguntar pelo estado de saúde das gémeas, que Daniela Martins baixou a guarda, agradeceu a pergunta e chorou.

Os trabalhos foram interrompidos e retomaram minutos depois, desta vez com a maioria dos deputados, talvez num rebate de consciência, a deixarem claro que não estaria em causa qualquer ação da mulher para ajudar as filhas, porque, iam concluindo, qualquer pessoa faria tudo para salvar a vida dos filhos.

A comissão parlamentar, que foi criada para apurar influências no processo de admissão ao tratamento no Hospital de Santa Maria e o eventual envolvimento ilegal ou fora dos procedimentos do SNS por parte de um conjunto de pessoas com responsabilidades políticas, continuou por mais duas horas.

No final e prescindindo de uma terceira ronda de perguntas, as dúvidas sobre a existência de influências de Nuno Rebelo de Sousa, Lacerda Sales e outras pessoas com poder no processo de marcação de consultas e administração do medicamento, continuaram as mesmas.

As sessões de inquirição parlamentar começaram esta segunda-feira com o ex-secretário de Estado da Saúde, Lacerda Sales a remeter-se ao silêncio para não se incriminar por estar na condição de arguido no caso judicial sobre o tema.

Hoje os deputados decidiram chamar ainda ao Parlamento o anterior primeiro-ministro, António Costa. Quanto ao filho do Presidente da República, cujas comunicações com a AR foram publicadas por uma revista, será chamado novamente à comissão de inquérito, depois de alegadamente ter recusado responder aos deputados portugueses.

O que ficámos a saber é que a CPI tem de analisar o pedido do advogado de Daniela Martins para a mudança de nome da própria comissão por forma a não incluir a palavra Gémeas.