"Não esqueceremos as personagens que nos deixou, altivas como a Maria Prazeres de 'Uma Abelha na Chuva', comoventes como a Aurora de 'Tabu', porque foi em Laura Soveral que os nossos cineastas pensaram, quando quiseram que o cinema português fosse moderno", afirma Marcelo Rebelo de Sousa, na mensagem de pesar publicada no 'site' da Presidência da República.
A atriz Laura Soveral "fica sobretudo como presença fundamental do cinema português, em 'Uma Abelha na Chuva', de Fernando Lopes, e em 'Tabu', de Miguel Gomes, mas também em 'Francisca' ou 'Vale Abraão', de Manoel de Oliveira", escreve Marcelo Rebelo de Sousa, que lembra igualmente a participação da atriz nos filmes de José Fonseca e Costa, José Álvaro Morais, João Botelho e Teresa Villaverde.
O Presidente da República recorda ainda a interpretação de atriz em textos de Kafka e de Arthur Miller, com o Grupo de Ação Teatral, no Teatro Villaret, em 1970/71, e sua versatilidade, assinalada desde o início da carreira, com os prémios de Melhor Atriz de Cinema e com o Prémio Bordalo da Casa da Imprensa, em Teatro.
Laura Soveral morreu hoje, no Hospital de Santa Maria, em Lisboa, vítima de Esclerose Lateral Amiotrófica, disse à Lusa a filha da atriz.
Nascida em Benguela, Angola, em 23 de março de 1933, Laura Soveral fixou-se em Lisboa, nos anos de 1960. Estreou-se em 1964, no Grupo Fernando Pessoa, dirigido por João d’Ávila.
O magazine literário Hospital das Letras, de David Mourão-Ferreira, dramas como "O Homem Multiplicado", de Herlander Peyroteo, e "As Preciosas Ridículas", de Jorge Listopad, estão entre as produções televisivas em que participou, a par das telenovelas "O Casarão" e "Duas Vidas", da Rede Globo, em que atuou, quando se fixou no Brasil, na década de 1970.
A telenovela "Belmonte", emitida pela TVI em 2014, foi a última em que participou.
Nos palcos, trabalhou com companhias como Teatro da Cornucópia, Teatro Experimental de Cascais, Novo Grupo/Teatro Aberto e A Barraca, tendo participado em encenações como "O avarento", "A Casa de Bernarda Alba", "O processo de Kafka", "D. Quixote" e "Primavera Negra".
Em 2013, fez a derradeira atuação em teatro, com “O Público”, sobre textos de Federico García Lorca, com encenação de António Pires, numa produção conjunta do Teatro do Bairro, com o Teatro São Luiz, em Lisboa.
No cinema, as últimas atuações de Laura Soveral, depois de "Tabu", passaram por "Cadências Obstinadas", de Fanny Ardant, e “Os Maias - Cenas da Vida Romântica”, de João Botelho.
A Academia Portuguesa de Cinema distinguiu-a com o prémio de carreira, em 2013, e com o Prémio Bárbara Virgínia, de homenagem a mulheres do cinema português, em 2017.
Na altura, a academia disse que Laura Soveral representa "um extraordinário exemplo de determinação e profissionalismo para gerações futuras".
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