O Túnel do Marão, o maior túnel rodoviário de Portugal, rasgou as entranhas da serra e, em 2016, encurtou a distância pela Autoestrada 4 (A4) entre o litoral e o distrito transmontano de Vila Real.
As acessibilidades melhoraram, mas o território mantém a tendência de perda de população: o cálculo da população média em 2018 dá conta de 192.465 habitantes espalhados por 14 concelhos, segundo dados do EyeData, uma ferramenta de análise de dados estatísticos criada pela Social Data Lab para a agência Lusa.
Em 2011, de acordo com o portal Pordata, aquando da realização dos últimos censos, residiam neste distrito 206.397 pessoas e, em 2017, 193.715.
O despovoamento e o envelhecimento são das principais preocupações deste território.
Dados disponibilizados pelo Eyedata mostram que a população residente com mais de 65 anos em 2018 era em média de 26,42%, enquanto a média nacional se fixava nos 21,67%.
Por sua vez, a população residente com menos de 15 anos era de 10,66%, enquanto a média nacional ascendia aos 13,77%.
O saldo populacional natural por 1.000 habitantes era de -77,21%, fixando-se a nível nacional nos -25,26%.
Em termos de escolaridade, em 2011 verificava-se que 23,90% da população com mais de 15 anos tinha pelo menos o ensino secundário.
Em julho deste ano, segundo dados do Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP), estavam inscritas 8.347 pessoas nos centros de emprego do distrito, menos 929 do que em igual período do ano passado (total de 9.276).
O índice de poder de compra 'per capita' era, de acordo com dados de 2015 do Eyedata, 77,75, um valor abaixo da média nacional (total de Portugal = 100), e o ganho médio mensal dos trabalhadores por conta de outrem era de 896 euros (contra uma média nacional de 1.108 euros).
Neste distrito, a principal atividade económica é a agricultura, com destaque para a produção de vinho em duas regiões: a sul o Douro e a norte Trás-os-Montes.
Em 2018, a região vitivinícola do Douro produziu cerca de 1,3 milhões de hectolitros e Trás-os-Montes 51 mil hectolitros de vinho. Para 2019, as previsões apontam para um aumento da produção de, respetivamente, 30% e 20%.
Também a exploração de rochas ornamentais, nomeadamente de granito, tem uma forte representação no distrito, onde estão localizadas 61 pedreiras ativas e o volume de negócios decorrente da exportação destas rochas ronda os 15 milhões de euros.
Estes dados foram fornecidos pela Associação Promotora dos Industriais de Mármores, Granitos e Ramos Afins (Assimagra).
Em 2015, a coligação PSD/CDS-PP ganhou as eleições no distrito de Vila Real, conseguindo 51,02% dos votos e elegendo três deputados, enquanto o PS obteve 33,07% dos votos e elegeu dois deputados.
O BE conseguiu 5,18% dos votos, a CDU 2,95% e o PAN 0,60%.
Para as legislativas de 06 de outubro, o número de eleitores inscritos neste círculo é 219.112.
A taxa de abstenção há quatro anos foi de 51,74%, uma percentagem mais elevada do que a nacional, de 43,01%.
Distrito é rico em lítio mas populações contestam minas a céu aberto
Vila Real é apontado como um distrito rico em lítio, mas as minas a céu aberto são contestadas pelas população afetadas, com destaque para Boticas e Montalegre, que se uniram em associações para lutarem contra a exploração.
O lítio é um tema polémico em Portugal. De um lado estão os que temem os prejuízos ambientais resultantes da exploração e do outro os que defendem o lítio como energia de futuro, o investimento e os postos de trabalho.
É também um assunto que promete entrar na campanha para as eleições legislativas de 06 de outubro.
A procura mundial pelo lítio, usado por exemplo na produção de baterias para automóveis ou telemóveis, está a aumentar e Portugal é reconhecido como um dos países com reservas suficientes para uma exploração comercial economicamente viável.
A associação ambientalista Quercus diz que 10,1% do território nacional está identificado para prospeção de lítio e, em vários distritos, têm sido apresentados pedidos de prospeção e pesquisa de depósitos minerais.
Mais avançados estão os projetos de Morgade (mina do Romano/Sepeda), no concelho de Montalegre, e em Covas do Barroso (mina do Barroso), concelho de Boticas, onde, depois da prospeção, o próximo passo é já a exploração.
Nestes locais, as duas empresas mineiras estão em fase de elaboração dos respetivos estudos de impacto ambiental (EIA) e as populações lutam contra as minas.
“O que nos preocupa é ser uma exploração a céu aberto, independente de ser de lítio ou de outra coisa qualquer. E preocupa-nos esta e a quantidade de pedidos de prospeção que já estão feitos no nosso concelho, sete até ao momento”, afirmou à agência Lusa Armando Pinto, porta-voz da Associação Montalegre Com Vida.
Preocupações relacionadas com a dimensão da cratera da mina, com os prejuízos ambientais, as consequências para a qualidade da água e do ar ou os impactos sobre os solos são comuns entre as populações de Montalegre e de Boticas.
O presidente da Associação Unidos em Defesa de Covas do Barroso (UDCB), Nelson Gomes, referiu que a “maior parte da população está contra” o projeto e disse acreditar que ainda “é possível travar a mina”, porque é um “projeto megalómano que não se integra nesta região”, classificada como Património Agrícola Mundial em 2017.
A área classificada pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) abrange os concelhos de Boticas e de Montalegre.
O presidente da Câmara de Boticas, Fernando Queiroga (PSD), disse que, neste momento e com os dados de que dispõe, é “liminarmente contra a exploração de lítio” no seu concelho.
“Pela forma como dizem que vai feita a exploração, os efeitos ambientais, na saúde pública e nos lençóis de água e a devastação que vai ser feita naquele território, eu sou contra”, salientou o autarca, que adiantou estar à espera do EIA.
Fernando Queiroga referiu ainda que a estratégia do município para o Património Agrícola Mundial, de atração de visitantes, não se compatibiliza com uma mina que pode causar impactos na paisagem e nos produtos locais, como na carne e no mel.
Em Boticas, a Savannah Lithium Portugal já adiantou que a intenção da empresa é começar a exploração no final de 2020. No local, as prospeções revelaram uma reserva de “27 milhões de toneladas de espodumena (mineral), com um teor médio de 1,06% de lítio por tonelada”.
“Neste momento, para as reservas que temos, o investimento é de cerca de 100 milhões de euros”, salientou João Barros, gerente da empresa.
O responsável apontou ainda a criação de 300 postos de trabalho diretos e cerca de 600 indiretos.
No concelho vizinho de Montalegre, a Lusorecursos Portugal Lithium, S.A, empresa que em março assinou o contrato de concessão com o Estado para a mina do Romano, anunciou um plano de negócios de 500 milhões de euros, a criação de cerca de 500 postos de trabalho e a implementação de uma unidade industrial.
O diretor executivo (CEO) da Lusorecursos, Ricardo Pinheiro, esclareceu, entretanto, que a exploração da mina vai ser mista, primeiro a céu aberto, passando depois, à cota das aldeias, para túnel.
“O lítio é a besta negra que está a tirar o sossego às populações”, afirmou à Lusa o presidente da Câmara de Montalegre, Orlando Alves (PS).
O autarca disse ainda que espera que este seja um processo “sabiamente interrompido”.
“Os desígnios nacionais, neste caso os energéticos, não podem ser desenvolvidos sempre à custa dos mesmos. Depois das barragens, em que nos levaram os melhores terrenos, depois da ocupação dos nossos montes com os parques eólicos, sermos agora confrontados com a tentativa de esventramento do território barrosão, obviamente que isso não é simpático”, salientou.
Orlando Alves aguarda “serenamente o EIA” e referiu que será “preciso reagir” se o EIA “não for favorável às pretensões” locais.
*Por Paula Lima, da agência Lusa
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