Em declarações à agência Lusa, Diana Pinto, presidente do Núcleo do Porto da Rede 8 de Março, um movimento feminista internacional contra a violência machista, racista e capitalista, contou que a Liga Feminista do Porto está a receber “centenas de denuncias na página do Instagram”.
As mulheres, revelou, contam as suas histórias de forma muito “gráfica”, ou seja, onde e quando acontecem as agressões, desenhando um padrão das zonas mais violentas, que são “Trindade, Bonfim e a Boavista”, e que a altura do dia que mais acontecem as agressões ou o assédio “é ao fim do dia”, ou seja, “é no regresso a casa que muitas mulheres são violentadas”.
À margem da concentração no Porto denominada "As ruas são nossas", que juntou cerca de uma centena de mulheres e homens na Baixa da cidade a manifestar-se contra a “violência machista, justiça patriarcal e opressão capitalista”, Diana Pinto contou que no último mês e meio a Liga Feminista do Porto sentiu que há cada vez “mais mulheres a avançar com as suas denúncias” e que, depois, essas histórias são partilhadas por coletivos feministas, permitindo que outras mulheres vissem e se sentissem à vontade para falar sobre as “perseguições e assédio sexual”.
A primeira dessas denúncias foi publicada na rede social Instagram da Liga Feminista do Porto no dia 28 de abril.
"Nessa publicação é divulgada a agressão física e sexual de uma mulher na zona da Trindade que foi atacada por um grupo de homens com um golpe na cabeça enquanto abria a porta do seu prédio com auscultadores nos ouvidos e que depois de estar inconsciente a vítima foi assaltada e violada. (…) A divulgação deste caso, de tão feroz violência, levou a que dezenas de outras mulheres partilhassem as suas próprias histórias e testemunhos de assédio ocorridas em diversas zonas da cidade”, relatou esta tarde ao microfone Joana, um dos elementos do Núcleo do Porto da Rede 8 de Março.
Segundo Joana, foram também denunciados, mais recentemente, “casos de perseguição e assédio em Matosinhos, nomeadamente nas imediações do Marshoping e do Norteshopping”.
“Dentro de carros, os indivíduos começam por abordar as vítimas sobre o propósito de vender perfumes. Rapidamente alteram a sua postura para uma de intimidações e violência, insistindo para que as vítimas se aproximem e entrem na viatura”, relatou, referindo que o objetivo dos relatos de hoje não é de “semear o medo”, mas antes evitar “que novos ataques aconteçam”, porque é preciso “prevenir a violência através de redes de solidariedade e da partilha de experiências", e porque a “violência machista não dá tréguas”.
Cerca de uma centena de pessoas protestou hoje no Porto contra a “violência machista, justiça patriarcal e opressão capitalista”, pedindo a “demissão imediata da juíza Pereira Neto”, que julgou o caso de uma mulher “estrangulada pelo marido” e “arrastada pelo pescoço” e “forçada a entrar num carro”, tendo absolvido o agressor com o argumento de que “não é cruel nem revela suficiente desprezo para ser considerado violência doméstica”.
“Parem de nos violar”, “As ruas são nossas”, “Submissas nos querem, combativas nos terão”, “Patriarcado e capital, aliança criminal”, “Se tocam numa, tocam em todas”, “Machistas não passarão”, “Mui nobre e leal cidade patriarcal”, “Juntas pelo direito de existir! Feministas por todas as que não estão cá” ou “Demissão da juíza Isabel Pereira Neto” eram algumas das frases que se podiam ler nos cartazes e faixas erguidos pelos manifestantes.
O movimento feminista exigiu também a criação de “uma rede pública e gratuita de casas de abrigo para vítimas de violência doméstica” e acusa o Estado português de “proteger os abusadores”.
“O Estado não nos protege. O Estado protege o machismo, o racismo, a pobreza e toda a opressão indispensável ao sistema capitalista. Protege acima de tudo os exploradores e os seus privilégios”, lê-se num panfleto entregue à comunicação social.
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