Em 13 de janeiro, a número três dos republicanos na Câmara dos Representantes juntou-se aos democratas, que controlam a maioria na câmara baixa do Congresso, para aprovar um histórico 'impeachment' contra Trump, acusado de "incitar uma insurreição" após a invasão dos seus apoiantes ao Capitólio uma semana antes.

"Temos uma situação em que o presidente passou meses alegando que a eleição foi roubada (...) e terminou com um atentado no Capitólio. Cinco pessoas morreram naquele dia. É o tipo de atentado que nunca mais deve acontecer", disse Cheney à Fox News.

Desde que votou pela acusação de Trump, a advogada, de 54 anos, tornou-se alvo de criticamos de membros do partido que ainda estão com o ex-presidente, que pedem a sua punição.

Na Câmara, sobreviveu a um voto de censura durante uma reunião de congressistas republicanos, alguns dos quais queriam removê-la das suas responsabilidades dentro do partido.

No seu estado, Wyoming, onde foi eleita em 2016, foi alvo de uma moção de censura do Partido Republicano local, que exigiu a sua demissão. Cheney recusou, dizendo que "não cederia à pressão política".

Valores

A filha do ex-vice-presidente Dick Cheney (2001-2009) acredita que os republicanos, ao se renderem a Trump, renegaram os seus valores.

Para ela, "o crime [dos apoiantes de Trump] é que eles são incompetentes para governar, é o pecado original deles", explica Matthew Schmidt, professor de ciências políticas da Universidade de New Haven à agência France-Press (AFP). O seu voto foi "um voto de consciência, enquanto aqueles que dizem o partido primeiro são os agitadores", acrescenta.

Porém, para os partidários de Trump, Liz Cheney representa o "pântano" de Washington denunciado pelo ex-presidente, que critica políticos de carreira com os quais militantes comuns já não se identificam.

Em contraste, Marjorie Taylor Greene, de 46 anos, é uma política recém-eleita na Geórgia em novembro. Opondo-se ao aborto, à imigração e a qualquer regulamentação sobre armas, Greene foi destituída do cargo em dois comités da Câmara por disseminar teorias da conspiração do movimento QAnon.

"Um número recorde de republicanos votou no presidente Trump" em novembro, apontou Greene na semana passada, reiterando ainda que "os eleitores republicanos apoiam-no, este é o partido dele."

Porém, Cheney está do outro lado da barricada. "Somos o partido de Lincoln, não do QAnon, do anti-semitismo ou dos negacionistas do Holocausto", disse no domingo à Fox News. "Somos o partido da responsabilidade, o partido da verdade", concluiu, criticando as "mentiras" de Trump.

"Para casa"

Liz Cheney vem de uma família com uma longa história política. O pai, de 80 anos, foi legislador em Wyoming de 1979 a 1989, antes de se tornar secretário de Defesa de George H.W. Bush (pai) e depois vice-presidente de George W. Bush (filho).

Filha mais velha de um político proeminente, costumava acompanhar o pai durante as campanhas eleitorais.

Depois de se formar em direito pela Universidade de Chicago, ingressou na Corporação Financeira Internacional do Banco Mundial antes de assumir vários cargos no Departamento de Estado, principalmente no Médio Oriente.

Casada com Philip Perry, advogado de um famoso escritório de advocacia de Washington, é mãe de cinco filhos e tentou ser eleita para uma vaga no Senado em 2014, antes de ganhar na Câmara dos Representantes em 2016 a mesma cadeira que o seu pai ocupou.

Facilmente reeleita desde então, pode vir a enfrentar uma forte oposição dos apoiantes de Trump em 2022.

O senador Anthony Bouchard, de Wyoming, considerou recentemente que "Liz Cheney apunhalou pelas costas" o ex-presidente ao votar a favor do 'impeachment'.

Outro congressista leal a Trump, Matt Gaetz, da Flórida, afirmou num comício em Wyoming na quinta-feira que os eleitores naquele estado poderiam escolher alguém que realmente os representasse e mandasse Cheney "para casa".

Por: Cyril JULIEN da agência France-Press (AFP)

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