“Uma agenda de ‘centro’ não é capaz de resolver a crise que o país vive. Por isso espero que Lula se mantenha fiel ao programa escolhido na eleição”, frisou à Lusa Juliano Medeiros, presidente nacional do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), um partido que representa ‘a nova esquerda’, alicerçado por causas sociais, antirracista, defesa das minorias e defensor da presença do Estado na economia.
Apesar de Lula da Silva ter vencido a corrida para a presidência contra Jair Bolsonaro, encontrará uma maioria do Congresso composta pelo chamado ‘centrão’, um conjunto de partidos políticos predominantemente de direita que usa a sua força em bloco na defesa dos seus próprios interesses.
Segundo a imprensa brasileira, Lula da Silva tem uma base de apoio de 181 de um total de 513 deputados federais e 26 senadores (de 81 no total).
Por essa razão, tem ‘piscado o olho’ a partidos do centrão como a União Brasil (59 deputados federais e 10 senadores) e o próprio MDB (42 deputados e 10 senadores), da antiga senadora Simone Tebet e figura vista como decisiva para a vitória de Lula da Silva na segunda volta das presidenciais.
Consciente da importância do centrão, o Partido dos Trabalhadores (PT), de Lula da Silva, declarou o apoio à recandidatura de Arthur Lira, o líder do ‘centrão’, que apoiou Jair Bolsonaro nas presidenciais, a presidente da Câmara dos Deputados. A bancada do PSOL na Câmara dos Deputados já anunciou que não apoiará a recandidatura de Arthur Lira.
“Lula já governou o Brasil. Sabemos como ele valoriza a chamada governabilidade. Mas ao mesmo tempo, penso que Lula está consciente dos enormes desafios que tem pela frente”, sublinhou à Lusa Juliano Medeiros.
Federação Brasil da Esperança (PT, PV e PCdoB), Federação PSOL/Rede (PSOL e Rede), PSB, Solidariedade, Pros, Avante e Agir, PDT, Cidadania, PCB, PSTU, PCO e Unidade Popular apoiaram a candidatura de Lula da Silva.
Questionado sobre a dificuldade que o futuro Presidente brasileiro terá em agregar as vontades destes partidos, com visões ideológicas diferentes, o responsável do PSOL considerou que, de facto, “é uma diversidade de posições e projetos difícil de conciliar”.
Contudo, ressalvou que Lula da Silva “foi eleito com um programa”, sendo que “esse programa tinha uma orientação nitidamente de esquerda”.
“Quem se agregou a essa frente, fê-lo sabendo qual era o programa e os compromissos de Lula com os mais pobres”, disse o líder do PSOL, recordando que o futuro Presidente brasileiro “nunca escondeu que era contra medidas recessivas pró-mercado”.
“Quem o apoiou sabia disso. A melhor bússola para o Governo, portanto, é o programa escolhido nas urnas”, sublinhou.
Juliano Medeiros disse esperar ainda “um projeto completamente diferente” daquele que vingou no país nos últimos quatro anos, com Jair Bolsonaro.
“O Brasil sofreu muito depois de quatro anos de Governo Bolsonaro. O que espero, portanto, é um Governo que olhe para as pessoas mais pobres, que proteja o meio ambiente, que promova políticas de proteção aos direitos humanos, que reconheça o papel do Estado na economia. Espero um giro [uma volta] de 180 graus”, considerou.
Lula da Silva ganhou a segunda volta das eleições de 30 de outubro com 50,9% dos votos, contra os 49,1% de Bolsonaro, e tomará posse no domingo como 39.º Presidente do Brasil.
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