“Hoje, é claro junto da comunidade que se trata de passar da fase da integração à fase da representação. As pessoas percebem que a invisibilidade, agora, é imerecida e contraproducente”, afirmou à Lusa Augusto Santos Silva, por telefone a partir de Washington, onde hoje participou na primeira conferência sobre a comunidade luso-americana, organizada pela Conselho Luso-Americano para Liderança nos Estados Unidos (PALCUS).
O encontro, referiu, permitiu dar visibilidade “ao associativismo e às lideranças luso-americanas em áreas que vão desde o Congresso às vereações municipais, que vão das empresas às universidades, dos centros de investigação às escolas”.
“Durante muito tempo, a integração fazia-se de forma quase invisível, as pessoas procuravam ser o mais discretas possível e não se envolviam na vida local ou política”, comentou.
Uma realidade que mudou, graças a vários fatores: uma nova geração de imigrantes portugueses nos Estados Unidos, ocupando segmentos médios ou elevados do mercado de trabalho ou com habilitações mais elevadas; os descendentes das gerações mais antigas de imigrantes “vão cada vez mais naturalizando a sua responsabilidade e o seu direito na vida norte-americana, ou a “força do exemplo”, com o secretário-geral das Nações Unidas de nacionalidade portuguesa ou casos de cargos políticos desempenhados por lusodescendentes.
Além disso, os participantes partilharam “o que cada um está a fazer em diferentes Estados e em várias arenas da vida cívica, social e institucional” e “como é que essa tendência pode ser reforçada”, comentou o chefe da diplomacia portuguesa, que interveio na sessão de abertura da conferência, na qual o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, foi orador principal.
Outro objetivo foi procurar estabelecer “formas de organização, de conexão em rede e de ação que possam potenciar uma maior presença, uma maior participação social, cívica, económica e política dos luso-americanos”.
Uma das ideias lançadas no debate foi a de os luso-americanos se organizarem “em formas de ‘lobbying’ e de influência tipicamente norte-americanas”, como fizeram os imigrantes italianos ou gregos – oriundos de países com dimensões semelhantes ou menores que Portugal -, com uma presença “fortíssima nos EUA”.
Este encontro enquadrou-se no “Mês de Junho nos Estados Unidos”, envolvendo as comemorações do 10 de junho em Boston, uma visita do primeiro-ministro à Califórnia e iniciativas em vários Estados, e que culmina com um encontro entre o Presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, e o chefe de Estado norte-americano, Donald Trump, na Casa Branca, na próxima quarta-feira.
Augusto Santos Silva comentou que “os resultados superam as melhores expectativas”, apontando resultados a nível político – quer com o encontro bilateral ao mais alto nível na próxima semana, quer com vários encontros de António Costa com governadores estaduais -, a nível económico – principalmente no decurso da viagem do chefe do Governo à Califórnia -, mas também no contacto com as comunidades, na área cultural ou na promoção do valor da língua portuguesa.
“Conseguimos uma ofensiva diplomática como nunca tinha sido feita, num momento em que era muito importante fazê-lo. Agora que há tantas divergências e tão importantes, temos de reafirmar que há uma coisa muito mais estrutural do que as nossas diferenças de ocasião, que é a nossa relação transatlântica”, sublinhou.
A deslocação do ministro dos Negócios Estrangeiros a Washington prossegue na segunda-feira com um jantar de trabalho sobre gás natural liquefeito, “com o objetivo de promover Portugal como ‘Hub’ europeu”.
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