O chefe de Estado vai pronunciar o tradicional discurso sobre dissuasão nuclear na Escola militar de Paris perante 600 pessoas, incluindo 300 oficiais estagiários da 27.ª promoção da Escola de Guerra e auditores do Centro de Altos Estudos militares (CHEM, na sigla em francês).
Para a cerimónia estão ainda convidados adidos militares de numerosos países, aliados históricos ou não, incluindo a Rússia, Paquistão e Israel, potências nucleares de facto ou presumíveis, no caso do Estado judaico.
O discurso de cerca de uma hora, muito aguardado nos meios militares, constitui um exercício imposto a cada Presidente francês, que é também o chefe máximo das Forças Armadas e o último decisor de um eventual disparo nuclear.
Emmanuel Macron vai “transmitir a herança dos seus antecessores adaptando-a ao estado do mundo de hoje”, assinalou o Eliseu.
Um mundo assinalado por o “fim do ciclo pós-guerra fria” e por “novas relações de força entre potências nucleares” em zonas de fricção como a Síria, a Líbia e o mar da China.
Em paralelo, a arquitetura de controlo de armamentos na Europa está em desintegração, com a denúncia do tratado russo-norte-americano sobre armas nucleares de alcance intermédio (INF), que proibia os mísseis com alcance entre os 500 e os 5.000 quilómetros.
Washington também ameaça não renovar o tratado New Start sobre armamentos estratégicos nucleares, concluído em 2010 e que expira em 2021.
Neste contexto, Macron vai propor “uma oferta de diálogo” e “de apoio” aos europeus para afirmar uma autonomia europeia “em matéria de defesa e de controlo dos armamentos” num mundo cada vez mais instável, referiu a mesma fonte.
Na segunda-feira, em Varsóvia, o Presidente francês prometeu “ter em consideração os interesses de outros países europeus”, num momento em que o número de Estados-membros da NATO, dependentes do ‘guarda-chuva’ nuclear norte-americano, manifestam apreensão pelo descomprometimento dos EUA da cena multilateral decidida por Donald Trump.
A responsabilidade da França também foi acrescida desde a saída do Reino Unido da União Europeia, por se manter o único país da UE a possuir a arma atómica.
Na segunda-feira, um alto responsável do partido conservador da chanceler alemã Angela Merkel propôs que a UE garanta no futuro a sua própria força de dissuasão nuclear, e que deverá ser disponibilizada em comum com o arsenal atómico francês.
No seu discurso, Macron deverá igualmente propor uma “agenda de desarmamento nuclear”, mas defendendo o princípio de posse da arma nuclear pela França, alguns dias antes do 60.º aniversário do primeiro ensaio nuclear francês.
Em novembro e durante uma visita a Nagasaki e Hiroxima, as cidades japonesas devastadas pela bomba atómica no final da II Guerra Mundial, o Papa Francisco qualificou de “crime” o uso do átomo para fins militares e desmontou a lógica da dissuasão nuclear.
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