Segundo lembra o manifesto, a que a Lusa teve acesso, a própria Ordem dos Médicos, em 2020, em plena pandemia, criou um grupo de trabalho para estudo da criação da especialidade, “cujos resultados se aguardam”.
De acordo com a SPMUE, em 12 dias já assinaram este manifesto mais de 1.200 médicos “de todas as especialidades, muitos dos quais em lugares de chefia e responsabilidade no Sistema, alguns ‘não especialistas’ a exercer nos SU [serviços de urgência] desde há muitos anos a quem nunca foi dada a oportunidade formativa e de carreira profissional nesta área”.
Em comunicado, divulgado quando se assinala o Dia Internacional da Medicina de Urgência e Emergência, a organização sublinha que “a forte adesão da classe médica a este manifesto é um sinal inequívoco de interesse e vontade de mudar”.
Na mesma nota, a SPMUE considera que a criação da especialidade de Medicina de Urgência/Emergência se assume como “a resposta para a estabilização de recursos humanos médicos com diferenciação e capacitação técnica adequadas”.
“A criação da especialidade permite não só uma formação de base nuclear – que inclui conhecimentos técnicos e científicos essenciais nesta área – mas também os conhecimentos organizacionais para priorizar, coordenar e direcionar o atendimento a estes doentes”, acrescenta.
Diz ainda ter a consciência de que a criação desta especialidade “não resolve por si todos os problemas” dos serviços de urgência, mas sublinha que é “peça angular” na qualidade assistencial e formativa.
“É peça angular na qualidade assistencial e formativa – sob a égide da Ordem dos Médicos – e crucial para implementação de mudanças organizacionais a pôr em prática no futuro, pela estabilidade que pessoas motivadas e com espírito de equipa asseguram, caminhando na mesma direção dos restantes parceiros europeus e outros países desenvolvidos do mundo, onde queremos ver-nos incluídos”, sublinha.
No texto do manifesto, os signatários explicam que a Medicina de Urgência e Emergência “é uma especialidade nuclear baseada em conhecimentos e competências necessárias para prevenção, diagnóstico e abordagem dos aspetos agudos e urgentes de doenças e lesões no vasto espetro da doença física e comportamental, que afetam todas as faixas etárias”.
Lembram que a vertente do tempo “é crítica e a eficiente gestão de circuitos imperativa” e que esta especialidade “abrange o pré-hospitalar, admissão ao hospital, ressuscitação e gestão de casos urgentes e emergentes até à alta ou transferência para outro médico/especialidade”.
“O especialista em Medicina de Urgência e Emergência deve conhecer as particularidades do intra e pré-hospitalar e saber responder nos mais variados e adversos cenários, incluindo a gestão de graves acidentes com multivítimas, epidemias ou situações de catástrofe”, frisam.
Recordam igualmente que a especialidade “está implementada em quase uma centena de países do mundo” e é hoje “reconhecida na esmagadora maioria dos países da Europa”.
“Apenas quatro países da União Europeia, incluindo Portugal, não o fizeram ainda. Um desses quatro países é a vizinha Espanha onde estão em curso os passos finais para o seu reconhecimento e implementação”, adiantam.
O manifesto refere igualmente que a diretiva europeia que regula as qualificações médicas “para efeitos de reconhecimento mútuo” determina um mínimo de cinco anos para a formação em Medicina de Urgência.
Os signatários recordam ainda que, desde o ano 2002, os ministérios da Saúde de sucessivos governos têm vindo a deliberar no sentido da criação de equipas fixas no Serviço de Urgência e que “sucessivos grupos de trabalho para a reforma das urgências (o último dos quais em 2018) vêm concluindo, invariavelmente, pela necessidade da criação da especialidade de Medicina de Urgência”.
“Os signatários deste manifesto vêm assim por este meio instar as autoridades competentes, nomeadamente Ordem dos Médicos, Ministério da Saúde e Governo de Portugal à urgente revisão da situação, tomando as medidas necessárias à prossecução do objetivo de criação da Especialidade de Medicina de Urgência na defesa dos interesses dos nossos doentes”, concluem.
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