"Os signatários têm vindo a assistir, com grande preocupação, à multiplicação em diferentes meios de comunicação social de alusões pouco rigorosas, ou mesmo manifestamente incorretas, sobre a gestão da floresta e as causas dos incêndios em Portugal", começam por dizer os signatários do Manifesto por uma Floresta Não Descriminada, no documento a que a Lusa teve hoje acesso.
"Esta preocupação é agravada pelo facto de muitas das afirmações pretenderem, sem qualquer fundamento, imputar ao eucalipto a responsabilidade pelo drama dos incêndios florestais, impedindo desta forma que os esforços se centrem no combate às suas verdadeiras causas", prossegue o manifesto, assinado por vários académicos, empresas do setor como Navigator e Altri, várias autarquias, entre as quais Aveiro e Setúbal, associações florestais e a CAP - Confederação dos Agricultores de Portugal.
Os antigos ministros António Serrano, Bagão Félix, Mira Amaral e Daniel Bessa, bem como o ex-secretário-geral da UGT, João Proença, subscrevem o documento.
"A desinformação que se vem verificando fere a floresta portuguesa em geral, contribuindo para que não se encontre o caminho adequado para evitar o flagelo dos incêndios, que se agudizou nos anos recentes", referem, apontando que "as verdadeiras causas dos incêndios estão essencialmente na excessiva carga de biomassa no terreno, em resultado do reduzidíssimo nível de gestão da floresta e do excesso de matos e de incultos no território português".
Ora, "o país tem atualmente um interior socialmente desertificado, tendo-se assistido a uma redução significativa das atividades agrícolas e da pastorícia, que conviviam em perfeita simbiose com a floresta, contribuindo para a prevenção dos incêndios" e esta transformação social, "aliada ao deficiente ordenamento do território, à estrutura fragmentada da propriedade, ao desinvestimento do Estado na gestão dos espaços florestais públicos, às características do clima, condições meteorológicas e fenómenos atmosféricos extremos, propicia o cenário de risco com que hoje nos confrontamos", refere o manifesto.
"Concordando-se com o controlo dos eucaliptos nascidos por regeneração seminal no âmbito das práticas de gestão florestal, não se pode aceitar a desinformação que tem vindo a público a este propósito. O verdadeiro combate deve ser travado contra o que se pode, de facto, considerar uma propagação invasiva, como é o caso, entre outras espécies, da acácia", apontam, reafirmando "que o ataque injustificado que se tem vindo a fazer contra o eucalipto não tem adesão aos factos nem sustentação académica ou científica".
Os signatários "defendem a certificação da gestão florestal, sob escrutínio de reconhecidas entidades internacionais (FSC e PEFC), no sentido de estender as boas práticas de gestão, sustentáveis, a toda a floresta", acrescentam, sublinhando que "a floresta de eucalipto é, aliás, o maior dinamizador da certificação da gestão florestal em Portugal".
Por isso, "o ataque que se tem registado contra o eucalipto promove a desertificação do interior e das zonas rurais do país, colocando em risco grande parte dos postos de trabalho diretos e indiretos existentes na fileira florestal, distribuídos por pequenos produtores, prestadores de serviços, empresas de logística e industriais", entre outros.
"Finalmente, atacar o eucalipto é atacar a espécie florestal que mais contribui, a uma larga distância, para a absorção de CO2 [dióxido de carbono] em Portugal, comummente aceite como a batalha essencial para mitigar os nefastos impactos das alterações climáticas. Tal não deixa de ser paradoxal dado que estas constituem uma das causas diretas do aumento da magnitude dos incêndios em Portugal e no resto do mundo", consideram.
O eucalipto é a matéria-prima base para a produção de papel, "produto natural, renovável, reciclável e biodegradável" que "cada vez mais está a contribuir para a erradicação da utilização de plásticos não biodegradáveis, em especial os de utilização única, ao desenvolver bioprodutos de origem não fóssil para utilização em embalagens", exemplificam.
Por isso, "é preocupante saber-se que Portugal é o único país da Europa onde se tem verificado uma redução da área florestal. Trabalhar para reverter esta situação deve-nos preocupar enquanto Sociedade", sublinham, salientando que estão "disponíveis para participar no debate que permita aprofundar o conhecimento de todos os temas que respeitam à floresta nacional".
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